domingo, 24 de agosto de 2014

Claudio Carsughi – Meus 50 anos de Brasil – resenha de livro

Biografias é um gênero de leitura que aprecio. Não é o que leio com mais frequência porque nem sempre há títulos realmente motivadores. Deixei escapar alguns que ainda lerei como, por exemplo, a biografia do Steve Jobs, a do Tom Jobim, a do Einstein... Mas existe uma que li há muito tempo que me tocou sobremaneira. Foi a história de vida do astrônomo (e astrólogo) alemão Johanes Kepler. Eu até escrevi um breve texto falando sobre este assunto chamando a atenção para a sofrida e incrivelmente rica vida intelectual deste gênio :  “Entre a desgraça e a genialidade”. Fica a dica.

Mas uma dica realmente quente é a última biografia que li “Claudio Carsughi – Meus 50 anos de Brasil”. Já foi lançado há algum tempo, mas só agora tive a oportunidade de lê-lo. O livro tem diversos aspectos que se não são únicos, nem sempre se encontram todos em um mesmo título. Foi escrito por sua filha, Claudia Carsughi que travou uma batalha épica para tornar este livro uma realidade. E pasmem, seu primeiro imenso obstáculo foi a forte relutância de seu pai, o próprio biografado. Não falarei mais porque esta é uma das boas passagens iniciais do livro!

 http://www.carsughi.com.br

A leitura é muito agradável e estimulante. Escrito na primeira pessoa, na voz do próprio Carsughi (falas, ideias e histórias capturadas por sua filha), traz passagens de sua vida no Brasil, mas começa desde sua infância em sua pequena cidade natal na Itália, o que motivou sua vinda para cá, porque permaneceu... As histórias não estão na ordem cronológica exata que permite ao leitor ir montando em sua imaginação o desenrolar de toda biografia.

Carsughi ainda hoje transita e transitou por todas as mídias sejam revistas, sites, rádio, TV... e também por diversas áreas como Futebol, indústria automobilística, automobilismo de competição e vários esportes. Muito jovem cobriu como jornalista a copa do mundo de 1950 no Brasil, bem como acompanha o campeonato de Fórmula 1 desde seu começo também em 1950. As histórias de muitas dessas coberturas são inacreditáveis, interessantíssimas e apresentadas paulatinamente capítulo a capítulo. Diversos outros profissionais que o acompanharam em todas estas jornadas são lembrados e são personagens destas ótimas passagens.

Não era objetivo da Claudia, mas ao compilar e apresentar a vida de seu pai, o leitor atento será capaz de depreender muito da história do rádio e da TV no Brasil. Morro de vontade de trazer alguma passagem do livro para esta resenha, mas não o farei para que o leitor não tenha diminuída a sua surpresa ao saborear este livro.

Em seu final diversos colegas de profissão e amigos fazem depoimentos sobre o Carsughi. Confesso que quando comecei a ler esta parte final imaginei que contivesse narrativas discorrendo sobre todas as virtudes do biografado e cada depoente acumulando elogios após elogio, aliás totalmente merecidos. Mas dentre os diversos depoimentos há casos, passagens, histórias inéditas à narrativa de sua filha e que são muito saborosas! É um ponto forte deste livro.

Também percebi após ter concluído a leitura algo interessante e divertido. Como cada capítulo encerra um caso diferente, uma passagem de sua vida, descobri que dá para fazer uma releitura “livre”. Como assim? Por várias vezes abri aleatoriamente o livro e reli aquela passagem e é muito agradável rever as histórias. Fica mais essa dica.

Ia quase me esquecendo. Há uma seção de fotos sensacional!! Representando diversas épocas, diversas situações, na Itália, no Brasil... Lindíssimas fotos!!

Se é que posso fazer uma crítica ao livro, senti falta de uma coisa. Na introdução sua filha conta a dificuldade que foi para fazer o livro, sua luta contra várias adversidades. Mas senti falta novamente de suas próprias palavras sobre o pai no final do livro fechando a sequência de depoimentos de colegas e amigos.

Conheço o profissional Carsughi desde minha iniciação em acompanhar as coberturas de Fórmula 1, pelo rádio (não havia transmissão pela TV) quando ele comentava na Jovem Pan aquele campeonato de 1972 vencido pelo Emerson Fittipaldi e narrado pelo ótimo e saudoso Barão, pai do Emerson. De lá para cá seja futebol, automobilismo ou outros esportes (por isso ele também foi conhecido como “O eclético" Claudio Carsughi), ouço amiúde aquela voz inconfundível, com sotaque peculiar que pronuncia um português perfeito (isso é contado e explicado no livro) os equilibrados e factuais comentários, opiniões e tanta informação. Tom mais fortemente emocional percebi, por exemplo, quando fala de uma de suas maiores paixões que é a Ferrari, desfrutada algumas vezes em sua vida profissional e pessoal. Ótima passagem do livro.

Para mim é um livro que após ser lido ainda permanece ao meu alcance para consulta eventual, ou melhor, desfrute ocasional. Posso fazer uma sugestão? Será que nova batalha épica pode ser travada para que uma continuação seja feita? Seja na forma de novo livro ou textos avulsos em seu site http://www.carsughi.com.br (local onde pode ser comprado diretamente o livro) ou em gostosas entrevistas ou podcasts? Será?

O biografado e a biógrafa, pai e filha

Um comentário:

  1. Muito interessante, Flávio ! Obrigado pela apresentação do livro, com certeza vale a pena a aquisição e leitura !

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