Este artigo está disponibilizado em três partes. Conforme forem sendo publicadas as novas partes os links para cada uma delas será acrescentado logo abaixo:
PRTG 2024 – Ampliando a capacidade de monitoração (publicado em 17/04/24)
Comparando PRTG e Zabbix em 2024 (publicado em 22/04/24)
Usando o PRTG no ambiente industrial (este texto)
Introdução
Quando o PRTG nasceu com o propósito de monitorar ambientes de infraestrutura
de TI, as indústrias ainda não tinham passado pela transformação que hoje
chamamos de “Indústria 4.0”. Quando essa mudança aconteceu, pode-se dizer que
foi o início da transformação digital no segmento de manufatura. Antes disso as
inúmeras máquinas e equipamentos existentes no chão de fábrica eram
essencialmente apenas analógicas na sua instrumentação e a monitoração desses
importantes equipamentos era feita por meio de inspeção visual feita por algum
funcionário nos indicadores presentes nessas máquinas, como por exemplo,
pressão, vazão, temperatura, voltagem, peso, etc.
Mas com a “Indústria 4.0” vieram tecnologias que permitiram transformar os
sensores analógicos presentes nos equipamentos em sensores digitais e que
podiam se comunicar com “controladores”, especialmente desenvolvidos para
receber essas informações e já começar a permitir um nível de monitoração mais
sofisticado. Da mesma forma os equipamentos industriais e seus controladores ingressaram
na rede das empresas, tornando-se acessíveis e disponíveis para serem avaliados
e monitorados. Estavam prontas as condições para que um produto especializado
em monitoração como o PRTG pudesse fazer pelo chão de fábrica o já fazia pela
infraestrutura de TI. Na verdade, pode até fazer mais como vou comentar mais
para a frente.
Da mesma forma que uma interrupção de recursos de TI pode prejudicar
imensamente os processos de negócios de uma empresa, uma parada em uma linha de
produção acarreta a não entrega do produtos para serem vendidos, ou seja, o
fluxo de vendas é interrompido e visualmente se percebe que o estoque fica
desabastecido. E pela multiplicidade de tipos, marcas, modelos de máquinas,
arrisco-me a dizer que chega a ser ainda mais complexo que o mundo de TI.
A Paessler quando percebeu essa transformação entendeu que poderia trazer para
a indústria os dashboards já tão usados em TI para esse segmento. Curioso é que
a indústria já tinha uma ou outra forma para monitorar suas instalações, mas
jamais com a simplicidade e riqueza de detalhes e interface limpa e objetiva
como o PRTG começou a proporcionar. Quando eu testei o PRTG entre 2012 e 2018
isso tudo ainda era inexistente ou incipiente, por isso nem foi mencionado. Mas
agora em 2023 e 2024 é essencial contar e detalhar essa história.
Para ilustrar melhor, está abaixo o link para o vídeo que fiz, uma conversa com
o Júlio Moura, supervisor de manutenção da empresa Centroflora, que produz IFA
(ingrediente farmacêutico ativo) para os fabricantes de medicamentos. Estivemos
em Botucatu, sede da empresa, uma de suas unidades, onde vimos o processo de
fabricação e várias aplicações do PRTG.
(clique na imagem para assistir)
Resumindo, Julio conta como a Centroflora percebeu a necessidade de monitoração
mais intensa de seus processos de fabricação. Citou como exemplo a importante
função das linhas de vapor que estão presentes em vários pontos da fábrica
atuando junto com outros equipamentos e a importante função de regular a
pressão dessa linha e a temperatura uma vez que se a temperatura ou pressão estão
baixas prejudicam os processos de fabricação, bem como se temperatura e pressão
altos demais, além do risco existente, gera desperdício de dinheiro, uma vez
que teriam que deixar escapar o vapor para aliviar a pressão e toda energia
gasta no aquecimento seria literalmente jogada fora.
Júlio levantou uma possibilidade,
imagine
se ocorresse um pico na rede elétrica que gerasse interrupção de energia na
unidade. Existe lá um gerador para contornar essas situações. Porém e se o
gerador falhar? Essa era uma situação que ele imaginou que devesse ser
endereçada.
Essa hipótese acabou por aproximar a Centroflora da empresa RBSSERV, parceira
da Paessler, que já atuava em manutenção elétrica e mais recentemente em automação
industrial com monitoração usando o PRTG. A RBSSERV desenvolveu um pequeno
dispositivo que era capaz de “perceber” o funcionamento das diferentes linhas
de energia da empresa, se era a proporcionada pela fornecedora externa ou a proporcionada
pelo gerador. Esse dispositivo simples, feito com arduíno e interface
apropriada pode ser monitorado pelo PRTG, constantemente indica a fonte de
energia sendo usada. No caso de interrupção pela concessionaria de energia, vai
alarmar no dashboard da empresa e apontar se a linha de energia suprida pelo
gerador está atuante ou não. Dessa forma não aconteceria problema algum nessa
unidade.
O valor gasto pela Centroflora
nesse desenvolvimento e implantação com a RBSSERV não foi divulgado, mas pela
simplicidade do dispositivo desenvolvido, que pudemos ver com nossos olhos, com
certeza esse sensor especializado e a implantação do PRTG custou uma mínima
fração do que custaria uma interrupção prolongada de energia!
Essa história foi ratificada por João Paulo Pereira,
consultor de tecnologia da RBSSERV com quem também conversei na sede da empresa
em Lençóis Paulista, cerca de 50 quilômetros de Botucatu. Segue abaixo o link que
contém a conversa com João Paulo.
(clique na imagem para assistir o do vídeo)
Em resumo o João Paulo, conta que da mesma forma que a Centroflora, muitas
empresas que já têm equipamentos mais modernos, já têm as informações dos
sensores digitais disponíveis, mas não conseguem usá-las. Essa é a proposta da
empresa. Criar formas de capturar esses dados que lá estão em informações
vitais para o negócio, que é manter o funcionamento e saúde do parque
industrial, usando o PRTG para capturar e implementar as importantes regras de
negócio vitais para as empresas.
João Paulo me fez entender que não apenas as informações de chão de fábrica são
coletadas, exibidas em dashboards, como também alarmes são configurados para
situações críticas (em ambiente industrial às vezes até situação de perigo),
com o PRTG, por meio de regras de negócios desenvolvidas, indo além da monitoração
de TI, ações efetivas podem ser tomadas sem intervenção humana, como por
exemplo comandar o desvio de um fluxo de energia ou mesmo o desligamento de um
equipamento para prevenir que se danifique seriamente.
Como nem sempre as fábricas podem contar com maquinário mais moderno, o desafio
da RBSSERV é prover a solução integrada com o PRTG para que mesmo em ambientes
fabris mais antigos, possa ser implantada toda essa lógica de captação e
tratamento das informações. Claro que com equipamento mais modernos isso é mais
simples, mas a indústria não vai trocar todas as suas máquinas do dia para a
noite, por isso é muito importante poder fazer essa integração com o que está
no chão de fábrica hoje.
A conversa com a RBSSERV foi muito além do que está no vídeo. Como profissional
de TI que também sou, fiz questão de entender um pouco mais das minúcias do
processo de automação industrial com o PRTG, algo totalmente novo para mim.
Aprendi que existem os tais controladores industriais, dentre os quais se
destacam Siemens e
Rockwell, dispositivos
bastante sofisticados que detém a inteligência para coordenar a aquisição de
dados e automatizar processos. Com estes controladores que o PRTG “fala”. Não
satisfeito apenas com isso pedi para o João Paulo me mostrar como é feito este
diálogo. O PRTG tem sensores especializados em OT, mais minuciosos para serem
configurados que os “sensores prontos” que há para TI, que acessam as
informações dos controladores.
Mas como o PRTG pode atuar na tomada de decisões automatizadas no parque
industrial? Como falei antes, captar os dados dos sensores e montar dashboards
com alarmes para situações críticas é muito importante, mas é apenas uma parte
do problema. O João Paulo me mostrou que o PRTG tem o interessante recurso de
permitir que na configuração dos sensores aplicados ao segmento industrial,
parte da inteligência do sensor seja codificada usando scripts ou arquivos EXE
para prover a inteligência. João Paulo abriu para mim um desses sensores em
linguagem Python, não por acaso uma das linguagens mais usadas hoje em dia em
diversos tipos de desenvolvimento. Nessa hora entendi e enxerguei longe.
Ficou claro o quanto poderoso é usufruir deste recurso para montar as regras de
negócios nos sensores do PRTG e se for necessário algo muito específico, que o
PRTG não tem de forma nativa, a requerida funcionalidade pode ser implementada
via programação. Aliás, isso não é novidade para quem lida com automação
industrial uma vez que os tais controladores (Siemens,
Rockwell,
etc.) também podem ser programados, mas cada um de sua forma. Ter no PRTG a
possibilidade de adquirir os dados, criticá-los e analisá-los, exibir alarmes e
também comandar uma ação que seja necessária, é algo essencial!! Citando apenas
um cenário, imagine que um sensor detectou uma elevação anormal na câmera de
vapor, chegando próximo dos limites de segurança e nessa hora, pela criticidade
da situação, não só o PRTG exibe o alarme como pode comandar o desligamento da
caldeira para evitar um evento catastrófico!! É de valor inestimável este
recurso.
Eu vou me permitir especular um pouco. O que vou citar agora não me foi falado
pela Paessler, mas é algo totalmente possível. Da mesma forma que as
funcionalidades de TI foram emprestadas para a área industrial, o inverso pode
acontecer, por que não? Falo de processos te TI também poderem ter ações
automatizadas, ações serem tomadas em função de desvios críticos. Analogamente
ao exemplo da caldeira de vapor, um servidor cujo sistema de resfriamento falha
e começa a elevar muito a temperatura do processador, para evitar a destruição
de um processador Xeon sofisticado e caro, alertar e comandar o desligamento
deste servidor, bem como o desvio das funções deste servidor para o seu
“espelho” para não interromper os processos de negócio... Faz total sentido ter
reações ativas e autônomas também no mundo de TI. Ainda especulando um pouco,
não duvido que o PRTG tenha desde sempre esses sensores especializados e
programáveis, mesmo antes das funcionalidades de OT, mas agora no ambiente
industrial que isso elevou a importância e o uso. Agora é esperar para ver a
criação de soluções parecidas no ambiente de TI, que certamente serão
desenvolvidas por parceiros da Paessler tanto no mundo de TI como no segmento
industrial (como a RBSSRV fez).
Conclusão
É para mim um privilégio ter podido acompanhar o PRTG desde 2012, quase que
a cada dois anos, com exceção dos complicados anos entre 2020 e 2022. Fazendo
uma analogia com uma das próprias virtudes do PRTG que é avaliar tendências
para ajudar a prever eventos futuros, hoje eu percebo o caminho que a Paessler empreendeu
para sua solução. Nasceu lá em 2001/2002 visando resolver um problema interno
da empresa, para monitorar apenas elementos de TI, tornou-se depois uma solução
comercial e de lá para cá vem dando importantes passos.
Com a intensa digitalização da nossa economia e do mundo como um todo,
nunca foi mais atual a frase do brilhante professor, consultor, considerado pai
da administração ou gestão moderna, Peter Drucker que pode ser vista na imagem
abaixo.
Não se gerencia o que não se mede e também não há como implementar
melhorias. Esses preceitos estão nos bastidores do PRTG e por isso eu a
considero uma ferramenta de valor inestimável para o ambiente de TI, mas não
apenas. Isso ficou claro ao longo desse teste, a evolução de TI para IoT,
ampliando para ambiente industrial, realizando a monitoração passiva e ativa (uma
vez que o PRTG pode disparar ações nos dispositivos de chão de fábrica por meio
de seus sensores estendidos), que vão além da aquisição de dados e elaboração
dos indispensáveis dashboards de monitoramento e emissão de alarmes.
Não exatamente no segmento de software para monitoração, mas não é incomum ver
alguma boa solução de software de repente ficar estagnada, sem evoluções
relevantes. Mas a história que observei de perto em relação ao PRTG é o oposto
disso. Cada ano dando passos em novas direções. A propósito, durante o teste
observei que praticamente todo mês ou a cada dois meses há uma atualização do
PRTG que traz novidades, correções ou novas funcionalidades. Por esse motivo
que é importante ter uma relação estreita com o fornecedor, para poder usufruir
de forma permanente e oficial desses serviços. Mais uma vez ao comparar com o
Zabbix, uma das soluções de mercado que tem seus méritos com certeza, mas em
relação ao PRTG a facilidade de uso, agilidade na implantação e manutenção,
ainda sigo recomendando fortemente o PRTG para a função de monitoramento do que
quer que seja.
O PRTG desde 2015 tem uma versão gratuita para teste, homologação e até mesmo
para quem não precisa mais do que 100 sensores (antes de 2015 a versão gratuita
suportava menos sensores). Quem usar esta versão, se resolver ampliar sua rede
de monitoração pode aderir a um dos planos com capacidades crescentes de
sensores que vão de 500, 1000, 2500, 5000 e até 10000 sensores. Importante
destacar que o licenciamento é anual (
https://www.paessler.com/prtg/prtg-network-monitor?#pricing)
, mas o uso da solução é infinito, ou seja, sem renovar a licença a empresa
pode continuar usando para sempre o produto, mas sem suporte nem atualizações.
Mas será que isso é uma boa ideia, depois de observar o tanto que vem evoluindo
o PRTG?