Neste final de março tive a oportunidade de testar por algum tempo a nova Ford
Ranger 2017. Isso não seria nada demais, afinal faz parte do rol de produtos e
tecnologias que avalio amiúde em meu site, também veículos. Mas convém destacar
uma coisa. Meu carro atual é um FIT, meus últimos dois carros foram Ford Fiesta
e Ford KA (o clássico KA em forma de gota da primeira geração). Sem mencionar
outros que já tive como Ford Escort, Uno, Chevette, GOL e até os saudosos Fusca
e Brasília. O que estes todos têm em comum? É óbvio, são carros pequenos! Nem
médios são, são pequenos mesmo! Por isso mesmo eu estava muito apreensivo como
seria a minha reação ao testar uma Ranger, um carro de grande porte!
Verdade seja dita, em algum momento dos anos 90 meu pai teve uma D20, uma grande picape de cabine dupla e por uma ou duas vezes eu a dirigi. Minha lembrança era mais de conduzir um pequeno caminhão do que um carro. Sejamos justos, faz bastante tempo e ao menos a direção era macia, mas ainda sim me lembrava um utilitário pesado.
O consumidor da Ranger
Antes de falar das características mais técnicas do carro preciso discutir quem seria o cliente da Ford Ranger. Esta pergunta suscitou uma explicação muito interessante por parte de Oswaldo Ramos (Marketing Manager da Ford Brasil). A Ranger é um veículo criado para o público que mora longe dos grandes centros, geralmente donos de propriedades rurais. Este consumidor normalmente vai querer ter o mesmo carro para o dia a dia, bem como para percorrer sua propriedade passando por terrenos que podem ser acidentados e de difícil transposição. Também pode precisar transportar carga, sementes, adubo, e tantas outras coisas na sua caçamba.
Mas também nos grandes centros urbanos, alguém que more em uma casa e que precise de um carro robusto para viagens para seu sítio, casa de praia, transportando algo mais volumoso como um jet-sky ou um novo fogão para seu sítio. Por seu tamanho a Ranger não é um carro que se adapte bem às garagens apertadas de shopping centers ou subsolos de prédios de apartamentos com suas vagas apertadas. Segundo Oswaldo a penetração da Ranger nos grandes centros beira os 2% enquanto nas áreas ligadas a agronegócios supera os 5%.
O test-drive documentado
Novo que sou no universo das picapes grandes, vou concentrar a análise na minha percepção pura e simples, sem possibilidade de comparação com nada que não seja um veículo leve. Após uma reunião preliminar na qual as características de design e engenharia foram mostradas pela Ford, parti para o test-drive. No primeiro momento pegamos eu e meu parceiro de direção um trecho de asfalto, em uma estrada de pista simples com subidas, descidas e algumas retas. Finalizamos o teste em um trecho “off-road”, em uma pista cheia de obstáculos, descidas íngremes, rampas, areia fofa, barro em abundância e um trecho de “rio”.
O início do test-drive se deu com o ajuste de posição dos bancos feito por convenientes comandos elétricos para a inclinação e distanciamento dos pedais. Da mesma forma para os espelhos externos. Simples assim.
O vídeo abaixo mostra rapidamente alguns momentos deste test-drive enquanto meu parceiro de viagem, Thiago Tanji (editor da revista Galileu) estava ao volante. Inclusive no final ele faz um interessante depoimento.
Percepções sobre o veículo
A despeito de seu tamanho, conforme falou meu colega no final do vídeo, não se tem a impressão de estar em um carro com mais de 2 toneladas e 5.3 metros. A cabine em nada lembra aquela antiga picape que dirigi há muitos anos. Lembra sim a de um veículo convencional por sua disposição, modernos instrumentos, muitos recursos tecnológicos, bancos envolventes de couro, etc. A parte traseira da cabine, esta sim se percebe estar em um carro maior, pois tem amplo espaço, com espaço de sobra para as pernas de seus ocupantes e cintos de 3 pontos para os 5 passageiros.
Mas não apenas a cabine remete a um carro convencional. Também a dirigibilidade e isso me impressionou sobremaneira. A direção tem assistência elétrica e por isso é muito leve em baixas velocidades. Em velocidades elevadas (100 Km/h) é perceptível o endurecimento de quase 30% da direção, que se reflete em uma condução mais firme e segura.
O modelo testado (Ford Ranger Limited – a mais completa), conta com inúmeras tecnologias que visam trazer mais segurança ao motorista. Uma grande parte destas tecnologias está presente nos 3 modelos da Ranger (XLS, XLT e Limited). O modelo de entrada (que de “básico” não tem nada) contém todos os recursos mostrados na figura abaixo (incluindo o preço da versão XLS 2.2).
Quero destacar um pacote de tecnologias de segurança que está presente em todas as versões da Ranger que é denominado AdvanceTrac. Citando apenas as mais conhecidas, Controle Eletrônico de Estabilidade, Controle Eletrônico de Tração, Assistente de Partida em Rampas, Assistente de Frenagem de Emergência, etc. São vários tipos de auxílio que visam resolver situações nas quais uma determinada habilidade manual na condução do veículo é requerida, mas feita total ou parcialmente pelo sistema eletrônico.
A propósito dessas siglas todas, há algum tempo fiz dois vídeos que debatem cada uma delas explicando-as por meio de um informal bate papo. Estes vídeos estão disponíveis aqui: ”Desvendandoas siglas automotivas - vídeos partes 1 e 2 - Sopa de letrinhas” onde também há um glossário com praticamente todos os termos.
Também está presente em todas as versões da Ranger o sistema multimídia SYNC 2, que é um dispositivo desenvolvido pela Microsoft e presente em muitos veículos. Consiste de uma tela de LCD de 8 polegadas , com sistema touch, que contém player com entrada USB que reproduz MP3, conexão Bluetooth com smartphone, leitor de cartão de memória, comando de voz em português (controle do áudio, telefone, navegação e ar condicionado), assistência de emergência, que explico melhor (texto e vídeo) na publicação “NovoFord KA chega trazendo tecnologias de carros grandes e inéditas”. Conta com também com comandos no volante.
Por meio da tela do Sync também sem tem acesso ao sistema auxiliar para estacionamento. Usando sensores de proximidade e câmera de ré, a operação de estacionar fica bastante facilitada, ainda mais para um carro com mais de 5 metros de comprimento.
Além do Sync 2 perceba na imagem abaixo que o painel tem nas
laterais duas telas de LCD que são customizáveis e que permitem ao usuário
selecionar as informações que são mais importantes para ele, comandada a
configuração e utilização pelos botões no volante.
A versão Limited (topo de linha) traz ainda mais recursos e tecnologias que julguei interessantes. Um resumo das características dessa versão, bem como seu preço estão mostrados na figura abaixo.
Dentre as tecnologias exclusivas estão:
Piloto automático adaptativo, que reduz a velocidade automaticamente se há um veículo mais lento à frente e retorna para a velocidade de cruzeiro programada quando a pista está livre.
Piloto automático adaptativo, que reduz a velocidade automaticamente se há um veículo mais lento à frente e retorna para a velocidade de cruzeiro programada quando a pista está livre.
Sistema de permanência em faixa monitora por meio de uma câmera se o veículo está dentro das faixas demarcadas na estrada e se cruzar a faixa, alerta o motorista (luz no painel e alarme sonoro) ou faz vibrar o volante, muito útil quando o motorista está com alguma sonolência.
Farol Alto Automático regula a intensidade do farol. Se há deficiência da iluminação, ativa automaticamente o farol alto. Se vem carro na direção contrária, baixa o farol para não causar ofuscamento. Incrível valor e utilidade no uso em estradas.
Alerta de Colisão, por meio de detectores posicionados ao longo do carro, um alerta sonoro e visual avisa se há algum obstáculo na frente, atrás ou na lateral. Durante o test-drive (veja o vídeo acima) como a trilha era muito estreita, vegetação muito próxima (ou encostando no carro) o alarme foi acionado algumas vezes. Além disso, os freios são pré-carregados para que respondam mais rapidamente caso seja necessária uma freada brusca.
Sensor de Pressão dos
Pneus: um sensor presente nas válvulas envia para a central de controle do
carro, por meio de ondas de rádio a informação da pressão de cada pneu e avisa
se algum deles estiver fora dos limites estabelecidos. Muito útil também em
casos de furos pequenos que o pneu vai perdendo pressão aos poucos.
Conclusão
A Ford está divulgando que esta é a melhor Ranger de todos os tempos. Embora seja uma afirmação retórica, afinal não faz sentido um fabricante piorar seu carro nas novas gerações, eu entendi o porquê dessa afirmação. Comparada com seus rivais mais próximos, a Toyota Hilux e Chevrolet S10, a Ranger oferece mais por menos. O preço que vai na versão XLS R$ 129.900 e Limited por R$ 179.900 (existe o modelo XLT que tem preço intermediário) não é pequeno. Mas se pensarmos no consumidor típico deste tipo de carro, há uma percepção de valor interessante. São dois carros em um.
A Ranger tem a capacidade de “fora de estrada” como grande destaque. Tanto na força do motor, tração 4x4 com marcha reduzida, suspensão muito robusta, etc. Mas surpreendentemente, ao menos para mim, dentro de sua cabine há a sensação de estar dentro de um ótimo carro de passeio. Seja na aparência do habitáculo, no acabamento, recursos tecnológicos, bem como na condução. Por isso eu me surpreendi. Pela facilidade, leveza e sensação de segurança.
Dessa forma seu proprietário pode usá-la tanto para carregar sacos de sementes na caçamba, um arado, galões de leite recém ordenhado, passando pelos mais difíceis rincões de sua propriedade, caminhos enlameados ou cruzando um pasto, como também é carro para ir visitar a sogra e o sogro no domingo, passear pela cidade, ir ao cinema, restaurantes, etc.
Quisera eu ter feito um test-drive mais extenso de forma a colocar em prova todos os avançados recursos... Mas testei muitos deles. A Ranger não é carro para qualquer consumidor. Eu não teria uma Ranger apenas e tão somente porque não preciso de um carro com todas estas características. Mas este espírito de carro “dois em um”, sem a síndrome de pato (que nada, anda e voa mas não faz nenhum direito) é algo de grande destaque. Ele é um dois em um muito competente. Se o agricultor tivesse que comprar dois veículos, um para cada função, sairia bem mais caro. Da mesma forma, pode ser usada em grandes centros como um carro de passeio, mas com ampla capacidade de carga para viajar para a praia, sítio ou fazenda no final de semana. Só precisa ter uma bela vaga para estacionar o carro!!
As três versões diesel começarão a ser entregues nas concessionárias no mês de maio de 2016. Uma versão flex (gasolina e álcool) também está para ser lançada, que fará com que o custo de entrada seja mais baixo que todas as versão a diesel.