Em julho de 2013 a Ford proporcionou uma interessante experiência para
jornalistas, blogueiros e profissionais que estão de alguma forma envolvidos
com a indústria automotiva ou de tecnologia. Tivemos a oportunidade de experimentar
o New Fiesta Sedan na cidade de Campos do Jordão, situada a 200 Km de São
Paulo. A cidade é conhecida por sua beleza natural, simpatia e por se situar a
uma altura de 1.600 metros que confere um clima especialmente agradável. Por isso "Fiesta nas alturas".
figura 01 – a paisagem típica de
Campos do Jordão
Tenho como todos os brasileiros um fraco por carros. Também como consumidor há mais de 30 anos desenvolvi minhas preferências pessoais, percepções e expectativas em relação aos automóveis. Já passou por minhas mãos um Jeep estilo militar do começo dos anos 70. Aliás carro com o qual aprendi a dirigir (inicialmente fabricado pela Willys e depois pela Ford no Brasil) até um LincolnTown Car (que me foi entregue contra minha vontade em uma locação de automóvel nos EUA – uma banheira gigante e absurdamente potente). Assim com toda a “autoridade” análoga a de qualquer brasileiro que se considera técnico de futebol (e se acha conhecedor de carros) mais minha vivência com informática e tecnologias, vamos em frente.
Recomendo a visita ao texto (também de minha autoria) chamado “As incríveis tecnologias contidas nos automóveis atuais” no qual eu mergulhei nas tecnologias do Ford Fusion no ano passado. Embora o New Fiesta e Fusion sejam carros de segmentos totalmente distintos, percebo um sorriso maroto nas pessoas da Ford ao ouvirem o New Fiesta ser chamado por alguns de “mini Fusion”. Declaradamente ou não, eles gostam e estimulam a comparação embora, repito, são carros destinados a públicos totalmente diferentes e com premissas bem distintas.
O test drive – a experiência com mais detalhes
Foi realizado em grupos com 2 ou 3 pessoas se revezando ao volante do New Fiesta Sedan. O percurso foi muito bem definido. Continha trechos urbanos, estradas amplas, estradas sinuosas, subidas, descidas... Foram 100 quilômetros, saindo de Campos do Jordão indo até uma simpática cidade no sul de Minas Gerais e retornado a Campos.
Os participantes dispunham de uma orientação de navegação, parecida com aquelas usadas em provas de Rally. Mas havia uma diferença. No lugar da prancheta e papel cada participante usou um iPad que mapeava trecho a trecho. E na dúvida bastava clicar no mapa que a foto do local que deveria acontecer a mudança de direção era mostradas. Não tinha como se perder.
figura 02 – frota de New Fiestas desfilando
pelas estradas e pelo sul de Minas
Falando mais do New Fiesta
Agrada-me mais carros no estilo hatch. Por isso eu fui bem racional ao testar o New Fiesta, sem me deixar levar pelo apelo emocional do design (estilo mini Fusion). É subjetivo, eu sei, mas fiquei com a impressão de que um carro do porte do New Fiesta poderia ser um pouco mais largo. Há ótimo espaço interno. Inclusive atrás, mas claramente nesta categoria de carro o habitáculo traseiro não foi feito para levar com folga 3 pessoas grandes. 2 pessoas atrás vão regiamente confortáveis (cabem 3 mas com menor conforto).
Um dos carros da frota da Ford que nos acompanhou era um New Fiesta Hatch. Eu o coloquei lado a lado com o New Fiesta Sedan na fotomontagem abaixo (figura 03) o que você vê?
figura 03 – Hatch e Sedan lado a lado
Tirando de lado os aspectos mais subjetivos (como o gosto pelo Sedan ou pelo Hatch) o New Fiesta Sedan dá um show de tecnologia, ainda mais quando ponderamos a categoria na qual ele está inserido. Seguindo aquela tendência de mini Fusion, vários recursos iguais ou semelhantes estão presentes. Vou ilustrar alguns deles.
Na figura 04 podemos ver em situação real de uso (foto um pouco comprometida pelo reflexo) o Sensor de Proximidade em manobras. Ao engatar a marcha a ré é mostrado na tela central do painel um diagrama indicando em que lado há obstáculo próximo. Além da figura um alerta sonoro é acionado de tal forma que quanto mais próximo mais intermitente é o bip. É um recurso simples por um lado, mas extremamente útil que não está presente em muitos carros supostamente de mesma categoria. Já danifiquei o para-choques de um carro no passado porque não vi que tinha um bloco de concreto de meia altura ali no chão.
figura 04 - Sensor de proximidade em
manobras
figura 05- tela de mensagens alertando
para erro no procedimento de partida do carro
figura 06- tela de do sistema SYNC
reportando mensagens de texto recebidas pelo smartphone
figura 07- sistema de segurança –
abertura interna do porta-malas
A Ford explicou que a opção por um design mais equilibrado e harmonioso, com traseira mais alta (fazendo menos perceptível a sensação de um carro 3 volumes) foi o contraponto e compromisso com um porta-malas maior. Segundo a Ford se tivessem optado por uma traseira estilo “caixote” isso permitiria capacidade de porta-malas surpreendente, mas a solução adotada de estilo e design é tida como um bom comprometimento. Dou razão à Ford. Mas ainda permaneço achando que alguns poucos centímetros a mais na largura deixariam o carro ainda mais bonito e com porta-malas ainda maior. No momento isto não é possível, pois a base do carro é a mesma do Hatch e o custo de ter uma plataforma diferente apenas para o Sedan seria proibitivo. Mas como sonhar e sugerir não custa...
figura 08- Perfil do New Fiesta Sedan
figura 09- visão frontal do New Fiesta
Sedan
figura 10- Interior do New Fiesta
Impressões ao dirigir
Do percurso total tive o New Fiesta em minhas mãos por 50 Km. Como disse antes eu o dirigi em tipos de vias distintas, cidades, ruas, estradas sinuosas, estradas mais retas, subidas e descidas. Algumas pessoas testaram o modelo automático, dotado do câmbio “Power Shift”. Não posso falar muito do automático de 6 marchas e dupla embreagem, pois o modelo que testei tinha câmbio manual de 5 marchas, a propósito muito suave e de engates bem fáceis e precisos. Mas foi acalorada e produtiva a discussão da Ford com os jornalistas especializados que definiam o Power Shift como um sistema automatizado e não “automático puro”. Para mim esta discussão é “sexo dos anjos”. O que importa é o resultado final. Os automatizados de primeiras gerações ficaram com a pecha de não sofisticados, um pouco lentos e sujeitos a trancos. Não ouvi crítica alguma a este respeito de quem dirigiu o Power Shift. Mais detalhes poderei dar em novo teste que venha a fazer de carro dotado de câmbio Power Shift.
Discussão à parte o motor de 1.6 litro cuja potência é de 130 CV e torque máximo de 157 NM (a 5000 rpm), considerado combustível etanol (com gasolina a potência é 5 CV menor e o torque 6 Nm menor – pouca diferença) é bastante agradável. Quem viu o despretensioso vídeo que publiquei no Youtube e citei no começo do texto, percebeu que havia 4 ocupantes adultos no carro e algumas sacolas no porta-malas. Assim a condição de uso foi relativamente rigorosa. As subidas da Serra da Mantiqueira não foram assustadoras para o New Fiesta, muito pelo contrário.
Desprovido de qualquer instrumento de medição, afinal o test-drive é algo para aguçar a sensação e percepção e não medições cartesianas, senti o que confirmei dias depois. Embora o torque máximo do motor (sua capacidade de realizar trabalho mecânico aplicando a força nas rodas) ocorra somente a 5000 rpm (motor bem acelerado) uma generosa porção deste toque já está disponível em rotações mais baixas. Venci calmamente as subidas de serra sem acelerar demais e sem reduzir muito as marchas. Às vezes enfrentava as subidas em 5ª marcha, outras em 4ª marcha e raramente em 3ª marcha.
Olhando o gráfico de torque do motor vi dos 16 Nm de torque, que 14 Nm (mais de 80%) já estão lá com apenas 1200 rpm, pouca coisa a mais que a marcha lenta (que costuma ser entre 600 e 800 rpm). O que significa? Isso é uma benção para os motoristas que não têm câmbio automático. Força em baixa rotação é essencial para que não seja necessário ficar trocando de marcha toda hora no anda e para do trânsito. Não tem nada pior que carro que você acelera e sente o motor “xoxo” e sem força para a mera tarefa de acelerar em um cruzamento. Mas não só quem tem câmbio manual se beneficia disso. Presença de bom torque permite que um câmbio automático possa trabalhar em rotações mais baixas e economizar combustível. Para o meu gosto, motor tem que ser assim, forte em baixa rotação. Em carros de competição ocorre quase que o contrário. Carros de F1, um exemplo extremo, têm força máxima perto da rotação máxima (entre 16.000 e 18.000 rpm). Mas carro para rua e carro para pista são bem diferentes.
figura 11- New Fiesta sendo testado na
paisagem de Campos do Jordão
Outras informações
A Ford tem em seu site um conjunto vasto de outras informações sobre o New Fiesta Sedan. Recomendo a visita. Detalhes técnicos, cores disponíveis, dados sobre revisões etc. estão todos lá. Mas não posso fechar este texto sem falar sobre alguns pontos não menos importantes.
A motorização do New Fiesta Sedan é sempre a mesma em todas as variações de acabamento. Trata-se do atualizado motor Sigma de 1.6 litros com bloco feito de alumínio (cujos dados já apresentei), diferente do modelo Hatch que dispõe de um motor de 1.5 litros como opção. Também está presente o sistema de partida a frio sem o antigo “tanquinho de gasolina”. Ao abrir a porta do carro o combustível já começa a ser analisado e em função na proporção gasolina/etanol os bicos injetores são aquecidos da forma correta (em temperaturas abaixo de 20 C) para que o motor inicie mais rapidamente seu funcionamento. Bem importante para os dias frios e com o tanque abastecido predominantemente com etanol.
Segundo a Ford o rendimento do motor com etanol seria 7,9 Km/l na cidade e 11,4 Km/l na estrada. Porém uma renomada revista especializada em automóveis, com mais de 50 anos (Revista Quatro Rodas da editora Abril), em seus testes apurou 8,6 Km/l na cidade e 12,0 Km/l na estrada também com etanol. Ou seja a Ford foi conservadora em seus dados uma vez que os dados apurados pela tal revista apresentou resultados ainda melhores. Ainda segundo a revista o New Fiesta Sedan acelera até 100 Km/h em 10,6 segundos, marca bem interessante que confirma a minha percepção de agilidade do carro e respostas rápidas e ágeis do motor.
Há também o prático assistente de partida em rampa, ou seja, o motorista não precisa dosar acelerador, freio e embreagem para partir em uma rampa de garagem ou subida. Também há controle eletrônico de estabilidade (ECS) e controle eletrônico de tração (TCS), auxílios de imensa serventia em prol da segurança em situações extremas, próximas do limite de dirigibilidade e perda de controle do carro.
Sistema ABS (freio que não trava as rodas e para o carro em menor distância) com EBD (distribuição de força de frenagem nas rodas em função da necessidade) e Airbags estão presentes. Serão itens obrigatórios por lei no Brasil (a partir de 2014 – menos o EBD). Mas o New Fiesta pode vir com até 7 airbags. Nos testes de impacto feito com o New Fiesta Sedan ele obteve 4 de 5 estrelas possíveis na avaliação LATINCAP mesmo na versão de entrada que não tem os 7 airbags. Avaliado com todos os airbags ganharia as 5 estrelas possivelmente. Vamos esperar este teste e confirmar.
Conclusão
A linhagem do New Fiesta, tanto Hatch como Sedan são claras evoluções de suas antigas versões. Fossem membros da caserna eu diria que a geração anterior do Fiesta era um sargento a agora foram promovidos a primeiro tenente ou quem sabe capitão. Viraram oficiais. Isso já aconteceu há mais de um ano, mas só agora eu pude realizar isso por meio deste teste.
Brasileiro passou anos recebendo da indústria apenas maquiagens em seus modelos. O mercado está mais maduro, consciente, exigente e sabe o que quer. Promoção de cabo para sargento não tem mais espaço em nosso competitivo mercado. A Ford percebeu isso. Não que o New Fiesta, o novo primeiro tenente, não tenha alguma idiossincrasia ou “rabugices”. Parte disso é subjetivo. Comentei que adoraria se o carro fosse alguns centímetros mais largo. É minha opinião. Alguns podem achar um detalhe aqui ou outro ali. Mas há muita consistência no projeto. A experiência de dirigi-lo em situações bem diversas atestou estas qualidades.
Considero um carro apropriado para uma família com até 2 filhos, que façam viagens eventuais (seu porta-malas dá conta desta demanda) e que busquem conforto e benesses que a tecnologia pode proporcionar (segurança, desempenho, conectividade, etc.). Há bons concorrentes no competitivo mercado. Mas o New Fiesta Sedan tem méritos para enfrentar esta concorrência.
Quem sabe não seria o primeiro passo daquela família com 2 filhos rumo a uma nova promoção... O “primeiro tenente New Fiesta” pode virar um “Coronel Fusion” na garagem da família algum dia. A comparação implícita e explícita da Ford entre o New Fiesta e o Fusion é algo que faz sentido pelas propostas semelhantes adequadas a cada segmento. E esta comparação é benéfica para ela uma vez que associa a imagem do New Fiesta a um carro de nível superior e que foi bastante bem recebido pelo mercado. Agora cabe ao New Fiesta, o irmão menor mostrar que tem o mesmo pedigree e fazer sucesso por si mesmo. Condições ele tem.
figura 129- New Fiesta Sedan
figura 13 – Eu ao volante do New Fiesta Sedan
Cá entre nós, apenas minha impressão, a frente de ambos os modelos, remetem ao Aston Martin, porém a traseira do Sedan ainda permanece ultrapassada, agora falando sobre o conforto, ele não poderá ser maior, pois aí entrará no segmento premium, onde é o lugar do Focus Hatch e Sedan, por isso notei seu incômodo com o espaço oferecido pelo modelo New Fiesta (parte 2) assim eu digo de passagem, pois chegaram a um ponto harmonioso do veículo, infelizmente ainda pecando no quesito visual, falo isso não como crítica negativa, mas sim construtiva, pois o Fusion quando foi lançado, o painel dele, parecia com o do Taurus lá em 1995, bota velho nisso meu amigo, tirando os demais, adorei vossa matéria é muito bom ler algo não tão técnico em autos, mas sim no quesito tecnologia embarcada, pois não há abordagens nesse aspecto, apenas ficam naquele blá-blá-blá daquela estória (o meu é maior que o seu), então jorram publicações a respeito, mas todas na mesma direção, finalmente um ponto diferente de ser abordado, meus parabéns meu amigo Flavio Xandó, um forte abraço... Henrique Cardoso Jr.
ResponderExcluirCaro Henrique Cardoso Jr. adorei seu comentário e sua lembrança. Eu me esqueci completamete do "meio do caminho", no caso da Ford o modelo Focus. Erro meu não te-lo considerado na equação. Se de fato o New Fiesta Sedan fosse "alargado" e começaria a entrar neste outro espaço. Eu errei na contextualização e te agardeço por isso! Mas por outro lado minha percepçÃo foi real. Às vezes é bom não ser "especialista", pois me permiti cometer este engano, mas por razões legítimas. Muito obrigado pelas palavras encorajadoras e elogiosas em relação à minha "experiência". Um grande abraço
ResponderExcluirNa imagem comparativa traseira, você colocou uma foto do Sedan Antigo com a do Hatch Novo...
ResponderExcluirCaro Anônimo não é não. Este New Fiesta prata que tirei a foto era o que eu estava dirigindo e com certeza é o New Fiesta Sedan. É que a traseira do Sedan e do Hatch são bem diferentes.
ExcluirFlávio parabéns pelo artigo, ficou muito bom. Estou pesquisando sobre o carro pois tenho interesse em adquirir a versão automática power shift titanium. Porém tenho uma dúvida, você talvez possa me ajudar.
ResponderExcluirA versão que estou cotando esta em torno de 62 mil reais.
A minha dúvida é se compensa pagar este valor por um "Fiesta" zero km, ou se não seria melhor um semi-novo de nível superior como o Cruze, Civic, Jetta, Fusion de 2012 por exemplo ? O que acha que valeria mais a pena este sedan zero ou carros mais tops porém usados?
Abraços.
Afinal Flávio compensa comprar o carro e pagar 62 mil em um zero km pela versão titanium ps, ou melhor pegar um cruze/civic/fusion usados de anos anteriores como 2012 ?
Abraços.
Caro Tiago obrigado por suas palavras!!
ExcluirA sua pergunta é bem interessante. E a resposta passa por alguns aspectos subjetivos. Carro semi-novo é uma boa opção, mas tem gente que prefere pegar o carro 0 Km. Eu prefiro um 0 Km. O New Fiesta Sedan Power Shift Titanium é um carrão, Mas difícil comparar com Jetta, Civic, Cruze ou Fusion que são claramente carros de outra(s) categoria(s). A resposta da sua pergunta passa com certeza pelo aspecto de gostar de semi-novo ou não.
Abraços