quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Autodesk realiza maratona para portar aplicações para sua loja

A empresa Autodesk tem passado por grande processo de transformação nos últimos anos. Falei sobre isso no texto “Autodeskapps, da engenharia aos usuários finais” e pensei que o assunto aplicativos tinha sido bastante explorado. Mas em conversa recente que tive com executivo da empresa percebi que existe um outro lado, outro mundo de aplicativos dentro da Autodesk e todo seu ecossistema.



Eu ignorara o lado mais óbvio da equação, ou seja, os aplicativos relacionados ao mundo do AUTOCAD e por fim outros produtos sofisticados que empresa tem. Resumidamente esta área atua com desenvolvedores independentes há 27 anos, ou seja, algo mais do que maduro. Porém com a tendência atual de prover acesso dos clientes aos aplicativos na forma de uma loja centralizada a Autodesk realizará algo interessante. Tive conversa a este respeito com Silvio Guido que é Senior Manager da Autodesk Developer Network. Seguem abaixo os pontos centrais da conversa que tive com ele a este respeito.



 
figura 01 – Silvio Guido - Senior Manager da Autodesk Developer Network

Xandó : Silvio por favor fale um pouco sobre como é que se relaciona a área de Desenvolvedores, os produtos e sobre este lado da Autodesk...

Silvio : Este ano a empresa completou 31 anos e há 27 ela lançou um programa para desenvolvedores. Todos os softwares da Autodesk têm APIs externas (API – Application Program Interface – meio para que programas diferentes possam se comunicar) que permitem serem customizados. Nós sempre tivemos uma ideia de transformar nossos softwares em plataformas. Quando isso foi lançado para o Autocad fez um super sucesso. Hoje em dia há mais de 4000 empresas trabalhando em torno do Autocad.

Xandó : E como isso se relaciona ou se compara com a área de desenvolvimento da própria Autodesk para o produto Autocad?

Silvio : nossa estimativa é que temos mais de 3 vezes o número de pessoas desenvolvendo para Autocad fora da empresa do que dentro da Autodesk. Isso nos levou para um monte de mercados que nunca pensamos em atingir. Pra você ter uma ideia nos EUA alguém fez uma aplicação para gerenciamento de cemitérios usando AUTOCAD! Você nunca iria pensar nisso.

Comentário : as tais APIs permitem que o desenvolvedor inclua dentro do ambiente do AUTOCAD (ou outros produtos) funcionalidades não existentes. Assim a base de recursos comum é utilizada, são agregadas funções, dados e interfaces novas com os usuários transformando aquela plataforma em uma série de outras aplicações.

Xandó
: tempo atrás eu vi duas aplicações bem interessantes, mas menos exóticas quando comparadas com seu último exemplo. Era o uso do Autocad para desenvolver projetos de escritórios, incluindo divisórias e mobiliário e outra para fazer projetos de iluminação no qual no final ele sumariza a lista de materiais necessários, potência elétrica necessária, etc.


Silvio : Essa funcionalidade de gestão de “facilities” nós já temos hoje embutida no Autocad com interfaces para bancos de dados, SAP, etc. E as aplicações são diversas.

Xandó : E como tem sido o envolvimento de empresas brasileiras com estas plataformas de desenvolvimento.

Silvio : Quando eu vim para a empresa há quatro anos havia 17 empresas fazendo este tipo de desenvolvimento. Hoje já temos 55 no Brasil. Na América Latina temos cerca de 83 (incluindo Brasil). Depois de Brasil vem México com maior relevância e depois Chile, Argentina e os outros países com menor participação.

Xandó
: E este conceito de “loja de aplicativos”? Achei curioso isto aplicado neste contexto.


Silvio : Há dois anos aproximadamente nós lançamos a loja de aplicativos. Afinal boas ideias do mercado nós também podemos aproveitar. Mas nossa loja tem uma característica diferente das outras. Ela é “B2B” (Business to Business – orientada a negócios entre empresas e não consumidor final). E tivemos dúvidas no começo, pois quem compra é o usuário da empresa que deve submeter a aquisição a uma aprovação interna, uma área de compras, etc. A despeito disso se revelou um sucesso tremendo!! Lançamos timidamente apenas a loja para aplicativos da plataforma Autocad e fomos expandindo criando várias outras lojas para as outros programas além do Autocad. Hoje temos cerca de 16 lojas. E o público brasileiro está sempre entre segundo e terceiro lugar na frequência das lojas (mundo todo).


figura 02 – Exemplo da loja de aplicativos para Autocad


Xandó : Mas como os desenvolvedores fazem para ter seus produtos nas lojas?

Silvio : Nós percebemos a mudança deste mundo. A empresa mudou. Por isso pensamos que deveríamos também levar nosso parceiros para esta nova forma de interação e de realizar negócios. Temos dado alguns “empurrãozinhos” visando a ajudar. E para isso vamos realizar em meados de setembro um evento direcionado para este público de desenvolvimento.

Xandó
: Quando vai ser e como será o formato do evento??

Silvio : Será dia 13 e 14 de setembro. Durante este período nós vamos estimular os desenvolvedores e dar o apoio necessário para ele migrar suas aplicações para a loja da Autodesk. Boa parte dos desenvolvedores não sabe como pegar seu programa e levar para a loja. Dá para colocar? Normalmente dá, mas existem algumas premissas que para serem cumpridas exigirão algumas pequenas adaptações ou ajustes.

Xandó : Que tipo de adaptações seriam estas?

Silvio : Por exemplo, o comprador tem que ser capaz de fazer o download do programa e poder sair usando na mesma hora. Nós não queremos que ele baixe o aplicativo, instale e tenha que pegar um telefone, ligar para alguém e esperar 3 dias para obter uma licença definitiva. Não pode ser assim. A experiência da loja fica ruim. Este evento ajudará os desenvolvedores a fazerem esta portabilidade.

Comentário : por isso que o evento foi batizado de “Autodesk Exchange Apps Portathon”, ou seja uma maratona para portar os aplicativos (Portability Marathon – Portathon). 

Xandó
: E como vai funcionar?

Silvio : Ele começa na verdade dia 00:00 (horário do Pacífico – fuso da Califórnia) no dia 13/09 e vai até 23:59 (horário do Pacífico) do dia 14/09. E a Autodesk dará um incentivo aos participantes. Cada aplicativo portado corretamente e colocado na loja seu desenvolvedor receberá US$ 100. Este estímulo financeiro já está valendo há mais de mês e meio

Xandó : E a dinâmica do evento, como acontecerá, como idealizaram?

Silvio : Vamos usar uma plataforma de conferência, no caso o WEBEX para controlar tudo e as pessoas do suporte participarem ao redor do mundo. Temos cerca de 40 técnicos que dão suporte para o desenvolvimento de aplicações e estes técnicos estarão posicionados ao longo dos diversos fusos horários para agilizar o suporte. Por exemplo, nós teremos 2 técnicos especializados em Civil 3D, um deles no Brasil e outro na Índia, assim melhor distribuindo o suporte para o mundo todo e para manter funcionando por 48 horas, para que ninguém tivesse que trabalhar por este tempo todo (48 horas). Afinal o evento é de abrangência mundial.

Xandó
: E como andam as adesões globais dos desenvolvedores ? E das 55 empresas brasileiras?

Silvio : Neste começo de setembro (esta entrevista aconteceu dia 03/09) já temos 157 empresas desenvolvedoras inscritas. As empresas brasileiras ainda estão com pequena participação, temos que ajudá-las a entrar. Destas 55 existem diversas categorias de desenvolvedores. Alguns são universidades, empresas de desenvolvimento (softwares comerciais), consultores, empresa que desenvolvem internamente (consumo próprio), etc.

Silvio : Explicando melhor estes tipos de empresas, por exemplo, uma usina de cana de açúcar comprou o Autocad para seu uso próprio e tem sua equipe de desenvolvimento para gerar funcionalidades para si mesma. Este é um caso. Por outro lado a usina poderia contratar uma outra empresa para fazer o desenvolvimento para ela (como se fosse uma consultoria). Mas esta pode retirar do software o que é específico daquela usina, ampliar o escopo deste trabalho e oferecer este aplicativo para várias outras usinas. Até mesmo uma empresa à parte pode ser criada para isso e aí se configura um desenvolvedor comercial, que é o público alvo desta iniciativa. Respondendo, destes 55 há no Brasil entre 10 e 15 que estão nesta categoria e são potenciais participantes.

Xandó : E como as empresas se tornam desenvolvedoras para produtos Autodesk?

Silvio : Como eu te falei no começo da conversa nós queremos criar uma plataforma. Não cobramos nada dos desenvolvedores para isso. Os SDKs (Software Development Kit) e todas as APIs são públicas e estão largamente divulgadas e publicadas na Internet. Qualquer pessoa pode desenvolver qualquer software sem falar nada conosco, não tem royalty, não tem nada.

Xandó
: Eu entendo que esta é uma situação ganha-ganha porque na medida em que surgem pessoas interessadas neste desenvolvimento você automaticamente amplia a plataforma. Mesmo que não se cobre pelo uso do SDK e nada disso, você estará garantindo que a base instalada dos produtos Autodesk tende a evoluir.

Silvio : Isso mesmo. Uma empresa fazer parte do programa de relacionamento com os desenvolvedores faz com que nós a tragamos mais para a frente. Nós damos suporte, damos acesso ao software e o mais importante de tudo, ele passa a fazer contato com a Autodesk. Pelo menos uma vez por ano eu os reúno. E temos como ajudar, orientar e direcionar. Olha “vai pela direita, não vai pela esquerda senão você vai trombar com a gente mais para a frente”. Este grupo está na Autodesk liderando o caminho para a nuvem porque estamos falando nisso há pelo menos 3 anos. Já faz um tempo que os alertamos “se você pensa que vai vender seu produto com licença perpétua, melhor repensar sua estratégia, nuvem implica em software como serviço”. Muitas vezes uma empresas dessas começa com a junção de duas ou três pessoas com uma ótima ideia, geralmente são bem técnicos, e que nem sempre têm este tipo de visão. Nossa missão no grupo de desenvolvedores também é chamá-los para o caminho correto e orientá-los a olhar para o mundo e ver que está acontecendo em volta para que ele não perca seu ganha-pão ali para a frente. O evento nessa hora ajudará as empresas que estão no programa de desenvolvedores e as que ainda não estão e que têm boas ideias.

*** fim da entrevista***

A conversa com o Silvio anda se estendeu por um tempo e falamos sobre outros vértices da Autodesk, outros assuntos interessantes. Mas como minha atenção fora capturada pelo tema do Autodesk Exchange Apps Portathon encerro aqui esta transcrição informal de nossa conversa. Quem quiser saber mais sobre esta iniciativa e evento que acontecerá a partir do dia 13/09, pode visitar a página em http://apps.exchange.autodesk.com/pt (em português). Também existe um blog (em inglês) com mais detalhes que pode ser acessado por este link.

Eu não sou desenvolvedor Autodesk, embora já tenha até desenvolvido no passado um tanto distante uma interface de um sistema ERP com uma aplicação em Autocad para fazer projetos de iluminação, mas vou acompanhar a iniciativa. Este tipo de acontecimento costuma gerar uma integração e um grande ganho na qualidade do relacionamento da comunidade de desenvolvedores e o realizador (no caso Autodesk). Assim se faz crescer a plataforma. Porém só é possível crescer se há mérito real. Só empurrar não funciona se não tem qualidade. Fazendo uma comparação, não adianta empurrar alguém em uma bicicleta com o freio parcialmente preso na roda. Ao parar o empurrão a bicicleta vai andar mais alguns metros e ficar estagnada. Mas se o empurrão for dado em uma bicicleta bem ajustada e acontecer até bem próximo de uma descida ou mesmo de um local plano, esta bicicleta percorrerá quilômetros e quilômetros. Para mim é isso que a Autodesk está tentando fazer!! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário