domingo, 15 de julho de 2012

Reflexões tardias mas essenciais sobre Redes Sociais

Já faz tempo que as redes sociais entraram em nossas vidas. Penso que foi um processo lento e gradual. Não há pessoa na terra que não seja afetada por esta nova forma de comunicação, mesmo que ela não use. Sempre haverá alguém por perto para compartilhar informações, acontecimentos, etc.
 

Os primórdios

Tenho dificuldade de resgatar como tudo começou. Arrisco-me a dizer que há muito tempo os fóruns de discussão e posteriormente o movimento dos blogs são os avôs das redes sociais. E sobre blogs eu me lembro de que se falava. Diziam ser um modismo e que acabaria naturalmente em pouco tempo. Ledo engano. O movimento dos blogs cresceu tanto e se tornou tão importante que muitos deles são referências jornalísticas e tornaram-se pontos de encontro de certas “tribos”, reunindo pessoas com interesses comuns. Dessa época primordial posso me lembrar de MySpace, se não me engano criado em 2003 que abriu espaço de forma gratuita para usuários criarem seus “pontos de encontro” virtuais. O hoje muito famoso Blogger é também desta época, ou melhor, é mais antigo (de 1999), mas foi relançado em 2004 com roupagem nova e mais próximo ao que conhecemos hoje. Veio a ser comprado nesta época pelo Google.

Orkut

Mas o que eu comecei a entender como Rede Social propriamente dita foi o Orkut, um fenômeno estrondoso especialmente no Brasil que em determinado momento foi responsável por quase 50% do movimento da rede. Era um tempo que Facebook já existia nos EUA ainda restrito ao meio acadêmico. Lembro-me que receber um convite para o Orkut era algo precioso, digno de contar na roda de amigos. Compartilhar fotos, experiências era algo que as pessoas pareciam precisar fazer e por isso o Orkut teve seus dias de glória. Mas desde esta época começam a surgir (procedentes) críticas à forma de uso da nascente rede.

O Orkut tinha uma característica que mais tarde se revelou seu calcanhar de Aquiles, o aspecto da privacidade. Em princípio todos podiam ver as páginas de qualquer membro embora não pudesse trocar mensagens diretas sem que fosse alguém de seu círculo amigos. Mas bastou esta impensada, ou quem sabe ingênua fragilidade para que pessoas mal intencionadas começassem a fazer uso impróprio daquelas informações para prejudicar outras pessoas.  Falava-se até no uso das informações obtidas assim para sequestros ou outras maldades. Mas a despeito deste aspecto nefasto começou a se criar o conceito de cruzamento de redes de interesses.

Fatos positivos e negativos

Foi a época das Comunidades do Orkut. Pessoas com interesses comuns se encontravam nas tais comunidades e acabavam se conhecendo que fazia por sua vez ampliar suas próprias conexões e amizades. Mas nesta época muitas coisas impensadas foram feitas. Conheci duas moças que trabalhavam em determinada empresa e estavam incomodadas com a implantação de certo software de gestão onde trabalhavam. Resolveram criar uma comunidade no Orkut chamada “Eu odeio o xxxxxx” (xxxxx era o nome do software) e desatavam a falar impropérios sobre a experiência delas. Esta história acabou com alguém da referida “software house” descobrindo e existência da comunidade e ao relatar para a empresa esta demitiu as duas moças sem pestanejar.

Ouvi certa vez da brilhante Martha Gabriel (engenheira e especialista em marketing digital) em almoço no qual gravamos o podcast Conexão TI para Negócios a simples frase “a vida digital em nada difere da vida real, não faça no ambiente virtual o que não faria na vida real”. Será que as moças do caso anterior montariam uma barraquinha na frente da empresa e fariam o protesto delas daquela forma? Muito provavelmente não.

Twitter

Mas o surgimento do twitter foi um marco positivo e negativo no uso de redes sociais. Criado em 2006 visava comunicação rápida focada no uso de dispositivos móveis para consumir e gerar informações. Por isso a limitação dos 140 caracteres. Foi apelidado e micro-blog, mas essencialmente colocou na mão das pessoas um “microfone aberto” para que onde quer que estivessem pudessem relatar o que estavam vendo, vivenciando e observando. Por isso que, para mim, twitter é um “rádio escrito” na Internet. Ao selecionar uma “estação” (alguém que seguimos) temos seus relatos, pensamentos, novidades... A agilidade do twitter é impressionante!! Lembro-me, por exemplo, que soube da morte do Michael Jackson muito antes por milhares de “tweets” que se espalharam pela rede. Esta é outra característica marcante, o “retweet”, que faz propagar intensamente algo relevante e importante. Ou pelo menos deveria ser assim.

Como acontece com diversas atividades humanas, há o bom uso e o mau uso de determinadas ferramentas. Pessoas sem muita noção começaram a enxovalhar a rede com mensagens inúteis, fúteis e totalmente irrelevantes do tipo “o garçom trouxe meu prato e estava frio”, “vou parar de twittar agora porque vou ao banheiro e posso demorar”, e tantas outras idiotices de similar calibre. Isso por si só não depõe contra o twitter e sim contra alguns de seus usuários. Assim como podemos trocar o canal da TV se a programação não nos interessa, podemos deixar de seguir alguém no twitter se o volume de inutilidades nos desagrada. Mas o twitter ficou um pouco com esta pecha de “monte de inutilidades”, que é uma conclusão errada. Uma caneta BIC é extremamente útil e inofensiva, a não ser que seja cravada na jugular de alguém. A comparação é propositalmente exacerbada exatamente para dar esta noção do bom uso e mau uso.

Não vivo mais sem twitter. Tendo escolhido um universo representativo de pessoas que sigo, começo meu dia olhando o que eles contam, quais suas ideia para o dia que começa e quais as novidades. É mesmo a minha “estação de rádio escrita” e personalizada de acordo com meus interesses. Também uso o twitter (@fxando) como forma de divulgação de artigos que publico em diferentes veículos, sites, etc. Tenho uma quantidade moderada de seguidores (perto de  800), mas o efeito é instantâneo!! Ao divulgar um texto no twitter na mesma hora percebo nas estatísticas do Blogger o avanço no número de leitores daquele texto. Algumas pessoas “retwittam” meus textos que traz ainda mais leitores para meu site/blog, seja para aquele artigo ou para outros que eles acabam por descobrir nesta visita.

Facebook

Não esgotando o tema, que é muito vasto, não poderia deixar de falar no fenômeno que é o Facebook. Criado para atingir a comunidade universitária em meados dos anos 2000 (o filme “A rede social” conta em minúcias esta história) tornou-se um fenômeno de proporções mundiais. Hoje em dia beira o Bilhão de usuários. Tem características do velho Orkut, traz um “ticker” (tipo de fila de mensagens – o que falam os seus amigos) que se assemelha ao twitter, mas resolvendo os problemas de segurança e privacidade que tinha o Orkut em seus tempos iniciais. O Facebook com este formidável grupo de usuários atingiu proporções tão grandes que não para de receber avanços, melhorias, novas funcionalidades, fruto de sua também formidável receita com publicidade. Não quero neste texto entrar na discussão sobre violação de privacidade ou direito sobre os dados das pessoas. Quero trazer minha percepção sobre como mudou minha interação com muitas pessoas por conta do Facebook.

De forma análoga ao twitter o Facebook pode ser usado para futilidades, de forma ainda mais escandalosa, pois não tem o limite de 140 caracteres e ainda tem muita facilidade para anexar fotos e vídeos. Há inclusive relatos de pessoas de empresas que procuram perfis no Facebook para investigar atividades de candidatos a empregos (desde que o perfil seja aberto). Uma foto de alguém em situação vexatória pode determinar a exclusão de alguém de um processo seletivo.

Mas minha vivência com o Facebook tem sido muito interessante. Também uso o recurso como forma de divulgar os textos que publico. Os efeitos são tão intensos como os do twitter, mas são mais duradouros, pois uma publicação em minha linha do tempo pode aparecer em diferentes momentos para os meus amigos. Tenho cerca de 950 pessoas em minha rede no Facebook que misturam pessoas que conheço do trabalho, família e amigos do dia a dia. Há quem crie perfis distintos para cada tipo de amizade. Acho isso uma boa ideia e boa prática, mas optei por não fazer assim.

Claro que nada substitui a interação real, mas eu valorizo cada pessoa de meu Facebook. Faço questão de todos os dias olhar que faz aniversário e mandar uma mensagem, por mais simples que seja. É uma forma de dar alguma atenção às pessoas que por um motivo ou por outro nem sempre posso ver ou estar com elas. Da mesma forma quando alguém publica algum comentário interessante, uma foto ou algo que captura a minha atenção, gosto e dar uma palavra, minha opinião, apoio...

Também valorizo muito os Grupos do Facebook. Recentemente meu filho fez uma viagem com a escola e pais e mães criaram um Grupo para compartilhar notícias, saudades, aflições,... Foi muito legal!! Pessoas que eu jamais conhecera antes ficaram de repente muito próximas por conta do interesse comum. Sei que agora ao encontrar pessoalmente estes pais e mães será totalmente diferente por termos compartilhado esta experiência juntos.

Ressalvas feitas do aspecto à parte privacidade (atualmente perfis são fechados por padrão) o Facebook ampliou MUITO meu contato com as pessoas, pessoal e profissionalmente. Às vezes vou a uma reunião de trabalho e me valho do Facebook para me lembrar de detalhes de algumas pessoas. Reconheço que até mesmo ver como são atualmente é importante para não correr o risco de passar por elas e não as cumprimentar (várias não vejo há muitos anos).

Linkedin

É um interessante instrumento para realizar networking profissional, essencialmente para uso no trabalho. Também sou usuário, mas de forma muito passiva e tênue. Não sou atuante. Aceito convites que me fazem para participar das redes das pessoas. Vez por outra alguém manda mensagens oferecendo cargos em determinada empresa, ou solicita indicações de profissionais, ou comunica algum feito relevante em suas carreiras. É uma rede social “de terno e gravata”, de qualidade. Não costuma ter futilidades, pois isso deporia profissionalmente contra seu emissor. Já precisei obter contato de alguém que não conhecia diretamente, mas esta pessoa estava conectada a alguém ligado a mim. Pedindo esta intermediação consegui contato e conexão com quem precisava. Assim que funciona.

Conclusão

 Acho que o ponto crucial deste tema é algo que citei rapidamente em um dos tópicos acima. Mudando o exemplo, uma faca pode ser usada para cortar um pedaço de carne durante uma refeição, bem como pode ser usada para ferir gravemente alguém. Tudo depende da forma que se usa o instrumento. Assim vejo o uso das Redes Sociais. É sem dúvida uma categoria nova, uma forma nova de comunicação. Em um mundo como o que vivemos hoje, tão corrido e pessoas sem tempo para nada, penso que falta interação humana. Há quem critique a falta de legitimidade da interação virtual, por meio da Internet. Claro que nada se compara à presença física, mas as oportunidades de contato nas redes sociais são incrivelmente maiores. E um dia se revertem em benefícios sociais de verdade. Um próximo encontro real será muito mais cheio de assuntos...

Acho condenável quem se super expõe nas redes. Isso é além de chato (parece exibicionismo) até perigoso, pois há quem relate todos os seus passos, hábitos, etc. Mas isso é exatamente o caso de mau uso que citei. Sou grato a esta nova forma de comunicação pelas oportunidades que proporciona. Ano passado eu reencontrei um amigo que não via há 30 anos, um argentino que morou tempos no Brasil e depois foi embora. Encontramo-nos primeiro no Facebook e meses depois conseguimos marcar um encontro em outro lado do mundo, em San Diego na Califórnia, onde passamos um dia todo juntos. Isso jamais teria acontecido sem um empurrãozinho virtual.

As redes sociais não se resumem a estas que nominei neste texto. Há muitas outras, com variações na forma de uso, propostas, etc. Mas o fato marcante é que se alguém achava que se tratava de algo passageiro, pode mudar sua opinião. Vieram para ficar com mais uma forma de interação entre pessoas que se bem usadas são recursos maravilhosos de integração social.
 


2 comentários:

  1. olá, p4z & b3m!

    parabéns pelo excelente, lúcido e ponderado texto/artigo!

    tb acredito que o meio e a mensagem dependem (e muito) das intenções do mensageiro; ator imprescindível neste processo comunicacional!

    []s livres,

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  2. Olha Xandó, eu aprendi bem esse negócio de "nao fazer no mundo virtual o q vc nao faria no real... Nao perdi emprego ou coisa parecida, mas é muito óbvio q qualquer movimento seu na rede reflete na vida real... pena q nem todos pensam assim.

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