soürun - tecnologia a favor da corrida –treino virtual mas real!! parte 1

Quem me conhece sabe que meu esporte do coração é a corrida de rua. Treino a exatamente 10 anos com a equipe RUN&FUN, criada pelo atleta (nadador e corredor) e empreendedor Mario Sergio Andrade Silva. A RUN&FUN já tem mais de 20 anos orientando atletas amadores (e atletas de alta performance) de forma presencial, ou seja, por meio de grupos que se encontram com treinadores e que dão toda a assistência e orientação de forma personalizada. 

Fruto de toda esta experiência o Mario teve a iniciativa de criar uma solução para quem não tem condição para frequentar um grupo presencial de treinamento. É o sistema soürun. Mas vou deixar que o próprio Mario Sérgio fale por si só. Eu tive a oportunidade de conversar com ele e também testar por quase 2 meses o sistema soü run (é mais que um aplicativo). Segue abaixo a transcrição dessa conversa e o resultado do meu teste com o soü run!!

Mario Sérgio – criador da RUN&FUN e do serviço/aplicativo soürun

Flavio Xandó: Mário é uma grande satisfação poder conversar com você, ouvir você falar de sua história e principalmente neste momento a minha grande curiosidade que é, como surgiu a ideia do aplicativo soürun??

Mário Sérgio: Em 1993 quando eu criei a RUN&FUN e já em 1994 eu já estava utilizando um software que era usado por um amigo. Era um software direcionado à natação que eu adaptei para gerenciamento de corrida e corredores. A tecnologia desde então vem sendo presente. Durante um longo tempo fiquei mais focado nos aspectos operacionais e técnicos da minha empresa e do meu negócio. Em 2010 eu comecei a olhar o uso de tecnologia com outros olhos.

Há dois anos mudamos nossa plataforma de software que nos ajuda a gerenciar atletas e treinos. Isso foi uma evolução em relação ao que tínhamos, mas ainda assim achei que era pouco em relação que imaginava poder ser feito. No ano passado tive a felicidade de fazer um curso. Fui chamado pela Endeavor para fazer um curso de inovação. Este curso durou 4 meses com a participação de 35 presidentes de pequenas e médias empresas. Havia dois momentos deste curso fora do Brasil, um deles em Boston e outro em Stanford. Com todo este movimento minha cabeça deu uma virada e deu um “clique”!! Estamos inovando pouco, vamos pensar em uma coisa diferente!

Flavio Xandó: Que interessante Este foi então embrião! E como evoluiu a ideia?

Mário Sérgio: Primeiro comecei a pensar em começar usar de alguma forma os dispositivos que medem passos. Depois pensei na possibilidade de criar um trabalho escalável, com poder de crescimento maior, que teria alguma coisa a ver com os treinamentos que já fazíamos na RUN&FUN. Passado um tempo e depois deste curso, eu entendi que estes dois assuntos apesar de muito similares, deveriam ser pensados de formas distintas. Então eu amadureci a ideia de montar uma empresa, que contivesse nosso DNA, para treinamento à distância, com treinadores reais. Assim posso transformar a RUN&FUN em algo efetivamente escalável, porque da forma que ela está concebida, não é simples para expandir as operações. São grupos de treinadores, locais de treino, os atletas, o relacionamento presencial... isso não é tão escalável. Seja pela necessidade de espaço público adequado, os treinadores, etc.

Flavio Xandó: É mesmo. Acho até que dá para crescer, mas com o uso certo de tecnologia.

Mário Sérgio: Eu entendi que precisava ter uma empresa apenas focada nisso. E percebi também que os aplicativos americanos, aplicativos estrangeiros como Endomondo, RunKeeper, Nike Plus ou mesmo um mais técnico chamado Top Pix, estavam vindo para o Brasil. Nessa hora eu pensei, porque não ter aqui um produto local, não para competir com RunKeeper ou Endomondo que foi comprado, junto com mais outros dois Apps de corrida ou atividade física por US$ 500 milhões!! A ideia era fazer algo que pudesse ser escalável, que pudesse atingir o Brasil todo, ou mesmo em médio e longo prazo outros mercados, mas com a nossa metodologia RUN&FUN, com o nosso “toque”... Algo que tenha a ver com um treinador real mesmo.

algumas telas do aplicativo soürun

Flavio Xandó: Você sabe que eu já estou usando o soürun há um mês e meio. Em um primeiro momento eu não sabia que a interação com o treinador fosse com um treinador real. Pensei que se tratava de um “modelo matemático” ou um tipo de algoritmo bem elaborado. Isso não seria um demérito!! Mas eu acabei percebendo que eu estava interagindo com um treinador real, de carne e osso!! E isso eu achei um diferencial MUITO INTERESSANTE!

Mário Sérgio: É exatamente isso Xandó!! Eu não vou dizer que um algoritmo “mecânico” não tenha aplicação e que a médio prazo tenhamos mais disso no nosso serviço. Mas nunca perdendo o principal mote que foi desde o início e da criação do soürun que é ter o contato com treinadores reais. Hoje em dia não há algoritmo, é tudo interação real.

Interação com um treinador real

Flavio Xandó: Mas se um dia tiver um algoritmo, que defina o plano de corridas em função das características das pessoas e que tenha um treinador real por trás, é o melhor dos dois mundos!!

Mário Sérgio: Isso mesmo!! É exatamente aí que eu quero chegar!! Que tenha o algoritmo, mas assim que acontecer alguma alteração, mudança de comportamento, mudança de treino, lesão, qualquer coisa que aconteça com o corredor, o treinador pode olhar isso. Usando a tecnologia como ferramenta, um administrador que avise “o Xandó se machucou” e o treinador possa interagir diretamente. Quando eu falo em negócio escalável, os Apps como RunKeeper têm corredores na ordem de milhão. Nós pensamos em um primeiro momento em milhares.

Flavio Xandó: Eu duvido que estes aplicativos tão consolidados tenham treinadores reais ali fazendo contato em algum momento com o usuário do serviço.

Mário Sérgio: Eles têm um treinador que se responsabiliza e assina as planilhas de treinamento e programações. Mas tudo é absolutamente algorítmico e mecânico. Você capturou bem qual é o nosso objetivo.
  
Flavio Xandó: Você obviamente quer crescer, como uma pessoa de negócios, dedicando-se a uma empresa de uma área que você adora, mas você quer que a empresa também possa crescer de uma forma que possa manter o lado “pessoal”. Quando as pessoas me perguntam de RUN&FUN o que eu costumo dizer? Grupos de treinamentos e assessorias esportivas existem muitas. Estes guardam uma característica comum, que na RUN&FUN é muito forte. Meu subgrupo na RUN&FUN deve ter umas 25 pessoas, das quais comparecem cerca 10 a 20 pessoas nos treinos presenciais. (um vai um dia, não vai no outro, etc.). Meus treinadores me conhecem para valer. Levo bronca se estou puxando demais em um treino, bem como sou estimulado a “apertar” se um dia estou fazendo “corpo mole”. Também recebo elogios e incentivos genuínos quando o treino é bem feito, ou quando faço uma prova de rua... Eles sabem qual é a minha capacidade e meus limites, de cada um que treina, pessoa a pessoa.

Mário Sérgio: Ou ganha um elogio quando o treinador te encontra na livraria, mais magro e super bem (meses atrás o Mario me encontrou em um lançamento de livro de uma amiga comum e me parabenizou pela boa forma). Mas este é o ponto! Eu sou o dono da RUN&FUN e CEO da soürun, que é outra empresa que tem sócios investidores, sócio em tecnologia e em marketing. Eu sou majoritário.

Flavio Xandó: Mas como está escrito na tela do aplicativo soürun, “powered by RUN&FUN”, ou seja a inteligência técnica e fisiológica é da RUN&FUN.

Mário Sérgio: A inteligência de treino, a inteligência do mercado... algumas startups muito inovadoras até expandiram do mundo virtual para o mundo físico e vice-versa. Muita coisa pode acontecer. A RUN&FUN tem sua metodologia própria de treinamentos. Por isso este trânsito entre real e virtual, com a tecnologia RUN&FUN é um de nossos diferenciais. Estes aplicativos existentes de grande sucesso teriam muita dificuldade de se estabelecerem no “mundo real” porque não têm esta nossa experiência.
  
Flavio Xandó: É muito diferente o mundo real e virtual quando falamos das corridas?

Mário Sérgio: A diferença é brutal. O corredor é uma tribo! Você tem que saber reunir as pessoas em um local apropriado, tem que dispor da água, Gatorade, pensar onde os treinadores estarão posicionados, os diversos tipos de ritmos... isso tudo. Quem vem do mundo digital não é obrigado a saber.

Flavio Xandó: Existe uma coisa do soürun que eu não consigo testar. Como eu sou atleta “presencial” da RUN&FUN, eu já venho em uma cadência de treinamentos, minha rotina, e minhas planilhas. Mas eu tenho grande curiosidade que é saber dos resultados em uma pessoa que esteja treinando 100% com o soürun. Não precisa ser alguém totalmente sedentário, mas alguém que tivesse começado muito modestamente a fazer os exercícios, seguindo a rotina do soürun... saber da sua evolução.

Mário Sérgio: Já temos casos assim. A minha sócia no marketing tem colocado toda sua família para treinar. Uma das pessoas da família dela, uma carioca, começou “DO ZERO”. Neste último final de semana ela até tirou fotos em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas durante seu treino já correndo! Ela comenta com a Mônica (minha sócia) “eu nunca pensei que iria conseguir e progredir como venho progredindo”!! Isso mostra muito bem a nossa proposta de valor do nosso serviço.

Flavio Xandó: Eu falo por mim e possivelmente por todos os usuários do soürun. Os treinamentos são alguns dias bastante elaborados. Por exemplo, andar 3 minutos, correr leve 5 minutos, correr forte 3 minutos, correr leve 2 minutos, andar leve 2 minutos, voltar a correr... Os treinos são bastante variados. E eu já aprendi que isso não é à toa! Tem muita ciência e fisiologia por trás disso!!

Mário Sérgio: Sem dúvida nenhuma!! O Renato, que é o diretor técnico da RUN&FUN, também é o diretor técnico do soürun, responsável pela programação dos treinos em todos os níveis usando o que nós chamamos de “treino polarizado”. O que é isso? Nós trabalhamos um intervalo com intensidade e isso deve ser pensado ao longo de 8 semanas, por exemplo, de maneira que você tenha uma evolução, mas que você também tenha o período de descanso da semana mais regenerativa... tudo é muito bem pensado e planejado. É o que você falou.

Este é um ponto que faz toda a diferença! Eu sei que nos EUA existem grandes treinadores, mas eu coloco uma dúvida. Eles trabalham com corredores bons, atletas estudantes de faculdades, etc. Eles têm a ciência do lado deles, mas nós temos algo que é conhecer o corredor amador, saber de cada um, como você mesmo citou no seu caso. Essa é uma diferença muito grande. Com o soürun o Renato está se esbaldando porque está podendo ser cada vez mais minucioso, praticamente individual, ele consegue sugerir uma curva de esforço para aquela pessoa.

Flavio Xandó: Eu tenho uma curiosidade, qual a sua atual base de usuários atual...

Mário Sérgio: atualmente 120 e crescendo, sendo que começou para valer a menos de dois meses, mais ou menos quando eu te contei e convidei a testar o soürun. Nós só começamos algum esforço de divulgação há duas semanas.

Flavio Xandó: Vou te dar um testemunho. Quando fiz o meu cadastro, preenchi meus dados e citei que tenho vontade de fazer provas de 10 Km e Meias Maratonas. Meu treinador “vitual”, inicialmente o Chicão e depois o Murilo, começou a interagir comigo sugerindo Meias para eu fazer. A que ele indicou eu disse que não podia porque estaria viajando, aí ele sugeriu outras... Entramos em uma dinâmica, uma real conversa por meio do aplicativo. NENHUM desses aplicativos “grandões” sonha em ter isso!

Mário Sérgio: Por isso que eu achei tão importante você usar e fico feliz Xandó! Você consegue ter essa noção que poucas pessoas têm, infelizmente! Esse é o nosso desafio! Poder vender esta proposta de valor do negócio para quem não conhece muito. Mas é exatamente isso que você está falando! Não existe hoje este tipo de interação, que é o nosso DNA! Se fosse criada uma startup apenas de soürun, eu saindo da faculdade não seria assim, seria diferente, mas estanque, mais distante, talvez focada no aspecto técnico, meio padrão... A proposta é outra, é realmente ter a interação ele perceber que tem um treinador ali por trás dele.

início dos treinamentos – definição do objetivo
 

Flavio Xandó: Quem sabe um dia você tenha 10.000 ou 20.000  atletas. Pode ser complicado manter esta interatividade desta forma. Mas nada impede que um algoritmo esperto e bem desenvolvido possa ao interagir com o atleta, ao se deparar com algumas palavras chaves ou frases, remeter a um diálogo com o treinado real como é hoje e dar toda a assistência personalizada.

Mário Sérgio: Nós temos um largo histórico, uma grande experiência com a RUN&FUN que podem nos ajudar a lidar com estes tipos de situações e ajudar a sofisticar nossos algoritmos. Mas o que não pode deixar de existir é este toque pessoal, que será sempre o nosso diferencial! Se o atleta vier a fazer uma prova. Um algoritmo pode mandar mensagem de incentivo antes da prova e parabéns após a prova ser concluída, mas também o treinador pode interagir com ele para saber mais detalhes da prova, como ele se sentiu, suas dificuldades e sua experiência – “valeu Xandó, seu melhor tempo!! Mas como você se sentiu durante a prova?”. Do grupo poucos estarão fazendo aquela prova e isso facilitará esta interação. Esta é a nossa proposta. Eu não gostaria de que fosse tudo só “máquina”, pois se fosse assim perderíamos a nossa essência!

Flavio Xandó: Seja na RUN&FUN, nos grupos presenciais e também no conceito do soürun, ninguém está competindo com ninguém, apenas consigo mesmo. Estão querendo se manter bem ou melhorar sua condição física. E quando nós percebemos junto com o treinador isso acontecendo, é muito legal!!

Mário Sérgio: Muitas vezes as pessoas precisam ser estimuladas a terem objetivos. Em algumas fases a pessoa pode estar mais desestimulada. Nessa hora a tecnologia pode colaborar de muitas formas. Muitas vezes quando a pessoa tem informações, isso a ajuda a se manter em suas metas e objetivos. Seja no seu ritmo de corrida, na perda de peso... E com o acompanhamento do aplicativo, nós temos como saber se o corredor está de certa forma acomodado e propor para ele desafios, sugerir provas, etc.

Flavio Xandó: Uma coisa que me surpreendeu bastante no soürun foi descobrir ali o calendário de provas!! Achei sensacional!! Claro que isso existe, por exemplo, no próprio site da RUN&FUN. Mas as pessoas não entram várias vezes por semana no site, mas ela usa o aplicativo no mínimo de 2 a 4 vezes por semana! Eu não me lembro de ter visto isso em outros aplicativos do gênero.

Mário Sérgio: Eles não têm mesmo. Um ou outro pode promover alguma ação ou evento específico, mas não da forma como nós fizemos.

soürun – calendário de provas na ponta dos dedos
 

Flavio Xandó: Isso que você falou, se alguém ainda não definiu um objetivo , o treinador pode convidá-lo a olhar as provas (se ele ainda não fez isso por si só). Ele pode descobrir que terá uma prova de 5 Km ou 8 Km. Ele pode pensar, 5 ou 8 Km eu encaro, vou participar! E depois que você faz uma prova... A adrenalina do momento, aquele grupo todo, é bem diferente, super estimulante! Quem está em busca de melhor tempo será na prova que ele conseguirá e quem quer vencer uma nova distância, também!! Eu tenho 10 anos de RUN&FUN (completo em julho próximo). Até então não tinha participado de prova alguma e com 3 meses de treino fiz uma de 10 Km (Track&Field Vila Lobos). Hoje em dia não faço 20 por ano, mas entre 3 e 6 eu acabo participando.

Mário Sérgio: Sabe que pensando nisso tudo, tem um recurso novo que estará presente em uma das próximas atualizações. São os “testes”. Algumas pessoas podem não querer participar de provas. Certo dia será marcado, por exemplo, para a pessoa correr 5 Km, 10 Km (a distância que tem a ver com seu perfil) sugerindo um certo ritmo. Até o teste seu treino será direcionado àquele teste e ao concluí-lo ele (ou ela) receberá digitalmente uma medalha de participação. Aplicamos o já consagrado conceito da “gamificaçao”.

Flavio Xandó: Nisso o site e aplicativo da Nike são excelentes! Cheio de estímulos e reforços positivos!

Mário Sérgio: Com certeza, a Nike fez um trabalho brilhante neste sentido. Eles ainda têm integração com mídias sociais, você fica sabendo quando e onde os seus amigos correram, o ranking dos amigos, quanto correram ao longo do mês todo... E dentro do nosso roadmap de desenvolvimento do soürun, sabemos que vamos ter estes recursos também.

Flavio Xandó: Na sequência eu vou redigir o texto com o relato das minhas experiências com o soürun, mas vou adiantar algumas coisas aqui nessa nossa conversa. Por exemplo, depois de algum tempo há como o aplicativo aprender mais sobre o ritmo natural daquela pessoa. Assim se um dia o treino sugerido for correr leve e o atleta correr forte, o próprio aplicativo durante o treino ou após sua conclusão pode avisar sobre isso... ou ao contrário, se era para ser forte e a pessoa não correu no ritmo esperado. Seria um tipo de análise pós treino, seja automatizada ou avaliada pelo treinador já que sempre deixamos um comentário pós treino para ele. Isso não é algo tão simples para ser feito porque exige certa massa crítica de informações, treinos realizados, muitos quilômetros corridos para que o aplicativo “aprenda” sobre o corredor. Na verdade eu estou imaginando que o soürun venha a ter a sensibilidade e conhecimento do corredor que os treinadores da RUN&FUN têm em relação aos atletas.

Mário Sérgio: Sem dúvida temos que ter o histórico e mais uma coisa que o Renato tinha pedido. Tem que ter a integração com o Garmin (ou outros relógios de corrida) para que alternativamente ele possa transportar os dados do relógio para o aplicativo, caso ele prefira ou não queira correr com o smartphone.
 
Flavio Xandó: Hoje ele ainda não pega os dados, não é? Dá para digitar os dados no final do treino.

Mário Sérgio: Hoje ele não pega, mas está no nosso roadmap. Quando você digita, não dá para informar a frequência cardíaca, informação essa que existe no Garmin segundo a segundo do treino. Quando tivermos estes dados de velocidade (ritmo) e frequência cardíaca e isso puder ser mostrado em forma de gráfico, facilitará muito para o treinador avaliar aquele treino e ajustar treinos futuros. Hoje em dia o máximo que podemos fazer é indicar para o atleta qual regime de frequência cardíaca ele deve manter nas diferentes etapas daquele treino, mas nós não temos a entrada deste dado para confrontarmos e analisarmos. Teremos com esta integração já planejada.
   

Flavio Xandó: E como isso pode ser resolvido?

Mário Sérgio: Além da integração que falei, muitas pessoas têm estas pequenas pulseiras que medem passos e medem os batimentos e isso poderá também ser integrado ao aplicativo. O iWatch terá essa capacidade assim como alguns relógios de corrida (como o TomTom Runner Cardio) que medem pela pulseira os batimentos. Com estes dados, vindo de outros dispositivos ou da integração com os relógios de corrida como o Garmin, vai ajudar muito o trabalho do Renato na planificação dos treinos.
 
Flavio Xandó: Então você ainda vê muitas coisas por fazer?

Mário Sérgio: Nós hoje ainda somos um patinete, mas nós queremos nos tornar um carro elétrico, um Tesla!!! Nós temos uma caminhada grande a percorrer!

Flavio Xandó: Mas é tudo passo a passo Mário, não dá para abraçar o mundo de uma só vez.

Mário Sérgio: Temos investido alto, mês a mês, continuamente em tecnologia e desenvolvimento. Temos que dosar o ritmo, é passo a passo, mas não dá para ir tão devagar.

Flavio Xandó: Eu entendo bem o que você está falando porque você percebe e tem tanta vontade de fazer tantas coisas legais, mas também tem que esperar o produto ir crescendo para que sua própria receita possa ajudar a custear tudo ou parte do desenvolvimento, não é?

Mário Sérgio: Exatamente!! Tem isso e também precisamos de algum tempo para ouvir o que está falando o consumidor. Precisamos ter certeza de que o conhecemos. Temos esta necessidade e curiosidade. Teremos em breve dados mais precisos sobre isso. Temos algumas pessoas que como você foram convidadas a usar e dividir impressões conosco, o pessoal da Mizuno, que é nosso parceiro na RUN&FUN e mais algumas pessoas da relação dos meus sócios. Na medida que a base de usuários cresce, vamos poder saber mais e mais sobre eles e suas necessidades. Não sabemos ainda, mas será que para o nosso público a integração com redes sociais é mais ou menos importante que um gráfico com o ritmo do treino? Ainda não sabemos.

Flavio Xandó: Tudo é importante. Eu me lembro de minha época de usuário de BBS, sistema do meu grande amigo Aleksandar Mandic. Havia grupos de discussão online de vários assuntos. Mas de vez em quando as pessoas se reuniam ao vivo em uma pizzaria em São Paulo. Isso fazia com que as pessoas se conhecessem, trocassem experiências e tivessem uma também necessária integração social. Você já pensou algo nesse sentido para o soürun?

Mário Sérgio: Sim, podemos por exemplo, certo dia marcar, “pessoal, domingo tem treino do soürun no Ibirapuera”!! Mas você falou uma outra coisa que eu não tinha pensado. Poderíamos pensar em algo pós treino, em um café, no qual o usuário poderia comentar o que na visão dele poderia ser feito, sugestões... Seria bem interessante.
 

Flavio Xandó: Algo deste tipo vai totalmente na direção do imenso diferencial que você quer ter que é a grande interatividade e interação com os usuários do serviço. Tanto no aspecto da socialização entre os membros como o contato com vocês para capturar impressões e sugestões.

Mário Sérgio: Em nosso roadmap de trabalho, temos como objetivo que o soürun venha a ser para os corredores o que é o Waze para os motoristas!! Interação e informações com as pessoas locais. Por exemplo o Xandó vai para o Rio de Janeiro e pelo aplicativo pede uma dica “onde é um bom lugar para corrida e que posso correr com segurança?”. As pessoas do local podem até convidar você para correr com eles! Nós queremos chegar nisso. Seria a democratização dos grupos de corrida. Democratização no sentido de um custo menor (atualmente R$ 29,90 por mês após 2 semanas de teste gratuito) e também não obrigar que a pessoa se desloque para um lugar nem horário determinados. A pessoas tem liberdade de escolha de hora e lugar.

Flavio Xandó: Adorei essa ideia das dicas. Uma vez fui correr na Barra, lá no Rio e planejei correr 5 Km indo e 5 Km voltando. Mas eu estava me sentindo tão bem, estava tudo tão fácil que acabei correndo 8.5 Km quando pensei em voltar. Aí eu percebi que tinha um imenso vento contra (por isso estava tão bem na ida). Com o vento e calor eu quebrei, tive que voltar a pé um bom trecho. Alguém do local, acostumado a correr nesta praia poderia ter me dado esta dica.

Mário Sérgio: Claro, até mesmo qual o quiosque que tem o coco mais barato ou mais gelado! Imagine termos uma comunidade com 20.000 pessoas, nosso sonho dourado em 5 anos no Brasil. Essa grande comunidade interagindo conosco e entre si. Relações pessoais e profissionais podem ser estabelecidas... Começa a andar sozinho! E sempre trazendo para nós o feedback sobre nossos acertos, nossos erros, bugs, críticas, elogios...
 
Flavio Xandó: Vou adiantar mais uma das minhas sugestões! O usuário poderia ter como olhar o seu ritmo quilômetro a quilômetro. Você hoje só tem o ritmo final, geral do treino. E o dado é coletado. Mostrar no final uma tabelinha com os tempos de cada quilômetro deve ser fácil e para o meu caso, muito útil!

Mário Sérgio: Boa sugestão! Isso também traz uma informação a mais para o treinador, que o ajudará a conhecer melhor o atleta e planejar seus próximos treinos. Saber se o ritmo foi crescente ou decrescente no treino pode ter muita importância. O que aconteceu? Faz bastante sentido!

Flavio Xandó: Aconteceu comigo outro dia. Comecei meu treino correndo normalmente, mas no meio do treino tive cólica renal (em vias de resolver por intervenção médica) e fui diminuindo até que andei os últimos 2 quilômetros. O treinador veria isso e com certeza poderia me perguntar o porquê e eu explicaria para ele.

Mário Sérgio: É isso mesmo Xandó, a nossa ideia é essa mesma! Ir evoluindo sempre e ao mesmo tempo trazendo recursos para viabilizar os investimentos sendo custeados pela receita do serviço. Nós sabemos que no curto prazo isso não vai acontecer e por isso nosso horizonte de planejamento é 5 anos. Queremos transformar uma startup em uma empresa que se sustente, evoluindo e que não requeira altos investimentos adicionais todo ano para se manter. E ao chegarmos a ter uma massa crítica de usuários, parcerias começam a ser tornar viáveis. Pode ter no aplicativo um espaço para loja de artigos esportivos na qual podemos chamar atenção para uma promoção para tênis de corrida... até algumas empresas já se manifestaram neste sentido! Mal começamos e já atraímos esta atenção!! O próprio aplicativo pode avisar “Xandó, você já rodou 700 Km, está na hora de trocar seu tênis – aproveite seu desconto na loja Centauro por ser membro da soürun”.

Flavio Xandó: São muitas possibilidades!

Mário Sérgio: Com certeza, tênis, gel, camisetas, relógio de corrida, tudo entregue na porta de sua casa. É muito prático. Tem muita coisa para desenvolver. Estou adorando este desafio de trabalhar com isso. Realmente é um outro negócio. É o mesmo ambiente (corrida), mas tratado de forma bastante diferente. A pessoa que me procura aqui na RUN&FUN não tem o mesmo perfil de quem nos procura no aplicativo. E temos que ter imensa responsabilidade.
 

Flavio Xandó: Como assim?

Mário Sérgio: Outro dia uma pessoa nos procurou pelo soürun e nas questões relativas a aspectos médicos e de saúde ele tinha diversos pontos que nos preocuparam. Por exemplo ele disse experimentar momentos de dor e tontura. Perdemos a venda. Não podíamos estimulá-lo a fazer algo que poderia ser ruim para ele. Nós o orientamos a obter orientação médica e depois nos procurar. Tudo tem sido um imenso aprendizado. Não iríamos apenas aceitar este cliente, com um termo de aceite que juridicamente nos isentasse de qualquer responsabilidade. Não faremos isso.

Flavio Xandó: Eu não acho que é seu objetivo, mas pode acontecer de um atleta do soürun vir a ser um cliente da RUN&FUN, um treino presencial?

Mário Sérgio: Sem dúvida, isso pode acontecer. Não é nosso objetivo mesmo. Assim como também é bastante viável, termos uma outra abordagem com as empresas que hoje a RUN&FUN atende. Imagine a VIGOR, empresa gigante na qual seu irmão trabalha. Pode acontecer o inverso. A RUN&FUN atende grupos presenciais em alguns lugares, mas por meio do soürun poderá atender os escritórios da empresa no Brasil todo. Todos os funcionários de todo o país podem usufruir do benefício de ter um treinamento subsidiado pela empresa, com o know-how da RUN&FUN por trás. Todos ganham, mais clientes para a soürun e muito mais pessoas atendidas pela assessoria para prática de exercícios.

Flavio Xandó: Não tinha pensado este outro lado. Assim também fica muito mais fácil de você dar feedback para as empresas sobre assiduidade, quem está praticando os treinos...

Mário Sérgio: E mais uma vez entra o conceito da democratização. Muitas vezes a empresa subsidia a prática esportiva em São Paulo com grupos presenciais, mas não os escritórios regionais do interior e de outros estados do Brasil em cidades como Uberlândia, Natal, Recife, etc. Mas nas localidades onde a RUN&FUN não tem presença podemos oferecer para estas empresas uma plataforma que viabiliza os mesmos objetivos que é estimular prática esportiva, saúde e qualidade de vida. E mais! Se percebermos que em determinado local já tem bom número de usuários do soürun podemos estudar com a empresa a criação de grupos presenciais, se for de seu interesse.

Flavio Xandó: Mário, quanta coisa!! O céu é o limite!! Quantas possibilidades!!!

Mário Sérgio: Dá para fazer muita coisa! Isso é uma das coisas que o curso que eu fiz me ajudou demais. O americano não tem certas amarras, que acaba ajudando a ser mais livre, mais organizado e focado. Tenho procurado aplicar isso nos meus negócios e o soürun é um dos frutos. Eu agradeço a oportunidade de poder ter conversado com você e também sua ajuda ao testar o aplicativo e nos dar o feedback que tem nos dado!!

Flavio Xandó: Mário é um grande prazer fazer parte da família RUN&FUN há 10 anos e também poder ajudar nesta nova fase com o soürun com minha avaliação e opinião. Conte comigo.

Mario Sergio e Flavio Xandó em um dos treinos da RUN&FUN (foto de 2014)

Aguarde a segunda parte deste artigo no qual eu apresentarei com detalhes o soürun, suas características e todas as minhas descobertas, opiniões e mais sugestões.