Quem disse que tecnologia, robustez e força não se misturam
nos automóveis? Eu não pensava assim. Mas tenho bons e saudosos motivos. Que
meus filhos adolescentes, ávidos por tomar um volante nas mãos não leiam este
meu relato (não permito que eles pensem em dirigir até terem a idade correta).
Minha saudosa mãe me introduziu ao mundo dos automóveis de uma forma singular.
Minha família tinha uma fazenda no interior de São Paulo. Eu com 10 ou 11 anos
de idade fui levado para o meio de um pasto nesta fazenda (sem animais) e tomei
assento em um antigo Jeep
Willys CJ-3B (foto abaixo), aquele cujo projeto era oriundo dos campos de batalha
da 2ª guerra mundial. Assim aprendi a dirigir. Até meus 18 anos o Jeep Willys,
depois trocado por um modelo mais novo já da fase Ford (que adquiriu a Willys
no final dos anos 60), foi o único carro que dirigi. Predominantemente no pasto
onde não havia local para colidir e posteriormente em estreitas e arenosas
estradas. E já perto dos 18 anos explorava os cantos mais inóspitos da fazenda
andando em riachos, lagos, pirambeiras, lamaçais... Que lembranças!
Não foi pouco tempo que desfrutei desse carro (quase 8 anos)
e por isso mesmo tornou-se uma excelente escola, talvez a melhor que eu poderia
ter. Tempos depois o primeiro fusca dirigido por mim parecia um carro de alto
luxo, de extrema maciez e conforto tal a diferença existente em relação ao heroico
Jeep desprovido de bancos confortáveis, com capota de lona, marcha extremamente
dura, posição de dirigir parecida com um caminhão. Até o limpador de para-brisas
do passageiro era manual (acionado por uma pequena alavanca). O próprio fusca
também é um carro da época da 2ª guerra mundial e mesmo assim era muito
diferente. Mas era um carro e não um “fora de estrada”. O Jeep era um carro
rústico e de grande valor para o contexto da fazenda. Eu o vi desatolar carros
presos, puxar arado, carreta carregada de milho ou cana por muitas vezes.
Esta foi minha escola de “fora de estrada”. Estas eram as minhas referências. Mas quis o destino que eu nunca mais chegasse perto de um veículo “valente” e muito menos andasse em terrenos difíceis e complicados. Por isso quando a Ford me convidou para conhecer a fábrica do Troller T4 e experimentá-lo nas estradas e areias do Ceará, meu lado aventureiro, há muito adormecido ficou bastante estimulado.
O novo Troller T4
Caso você leitor não saiba (eu não sabia até pouco tempo atrás) a Ford adquiriu a fábrica do Troller em 2007, um veículo fora de estrada genuinamente nacional. Fabricado originalmente usando processos próprios (semi artesanais) e alguns componentes de terceiros, agora em 2014 foi totalmente remodelado. Em uma renovada e ampliada fábrica localizada em Horizonte, uma cidade próxima de Fortaleza no estado do Ceará, o novo veículo tomou forma. Mas a Troller teve o grande cuidado (e sabedoria) em reprojetar o carro com toda a identidade visual do Troller, conhecido pelo mercado desde meados dos anos 90. Mas mais do que isso, o novo Troller respeita o conceito criado por seu fundador, um carro forte, robusto, capaz de enfrentar caminhos impensáveis, mas com estilo, conforto e proporcionando a seu dono desfrutar do fora de estrada, em companhia de seus colegas que também curtem muito este estilo de vida, urbano durante a semana e radical no final de semana ou férias.
Esta foi minha escola de “fora de estrada”. Estas eram as minhas referências. Mas quis o destino que eu nunca mais chegasse perto de um veículo “valente” e muito menos andasse em terrenos difíceis e complicados. Por isso quando a Ford me convidou para conhecer a fábrica do Troller T4 e experimentá-lo nas estradas e areias do Ceará, meu lado aventureiro, há muito adormecido ficou bastante estimulado.
O novo Troller T4
Caso você leitor não saiba (eu não sabia até pouco tempo atrás) a Ford adquiriu a fábrica do Troller em 2007, um veículo fora de estrada genuinamente nacional. Fabricado originalmente usando processos próprios (semi artesanais) e alguns componentes de terceiros, agora em 2014 foi totalmente remodelado. Em uma renovada e ampliada fábrica localizada em Horizonte, uma cidade próxima de Fortaleza no estado do Ceará, o novo veículo tomou forma. Mas a Troller teve o grande cuidado (e sabedoria) em reprojetar o carro com toda a identidade visual do Troller, conhecido pelo mercado desde meados dos anos 90. Mas mais do que isso, o novo Troller respeita o conceito criado por seu fundador, um carro forte, robusto, capaz de enfrentar caminhos impensáveis, mas com estilo, conforto e proporcionando a seu dono desfrutar do fora de estrada, em companhia de seus colegas que também curtem muito este estilo de vida, urbano durante a semana e radical no final de semana ou férias.
O leitor pode pensar que comecei o texto do jeito errado
falando do heroico Jeep da fazenda. Até porque quem é “trollero” não se
considera “jipeiro”. São tribos, estilos e conceitos diferentes. É verdade. Mas
a comparação para mim é importante porque o Troller T4 tem a capacidade de fora
de estrada que o velho Willys tinha, porém com muito estilo, sofisticação,
conforto e tecnologia.
Não vou explorar em detalhes as especificações do Troller T4 que são facilmente encontradas no link que acabo de inserir neste texto. Mas alguns detalhes merecem destaque:
Não vou explorar em detalhes as especificações do Troller T4 que são facilmente encontradas no link que acabo de inserir neste texto. Mas alguns detalhes merecem destaque:
- Motor diesel 3.2l de 200 CV e
- Torque de 470 Nm disponíveis a 1700 rpm
- Consumo urbano 9,8 Km/l Estrada 12,3 Km/l
- Transmissão de 6 velocidades
- Baixo nível de ruído
- Tração eletrônica: 4x2 traseira, 4x4 e 4x4 low - acionamento por um botão no console central
- Diferencial autoblocante que transfere o torque para a roda com maior aderência que compensa variações do piso
- Chassi com projeto de estrutura reforçada, estrutura metálica tubular
- Dimensionado para trilhas e ruas
- Freios a disco nas 4 rodas com ABS e EBD
- Ângulo de entrada 51º e ângulo de saída 51º(+14)
- Aclive máximo 45º
- Capacidade de imersão de 80 cm
As características acima são mais relacionadas ao uso fora
de estrada. Porém um conjunto de amenidades, tecnologias e confortos estão
presentes neste carro:
- Ar condicionado “dual zone” (controles separados para motorista e passageiro)
- Computador de bordo com 8 funções
- Vidros e espelhos elétricos
- Direção hidráulica
- Sistema de som com USB, Bluetooth e 4 falantes
- Console central com porta objetos
- Lanternas em Led, aerofólio e brake light
- Teto solar panorâmico duplo
O “trollero”
É normalmente alguém que tem no Troller o terceiro carro da casa. Utiliza-o para se descontrair no tempo livre e se confraternizar com outros “trolleros”. Estão disponíveis na rede revendas (exclusiva da Troller) mais de 130 acessórios para customização e personalização do carro. Desde protetores para diversas partes do inferior do carro, guincho, para choques off-road, câmera de ré, bagageiro de teto, capa de estepe, calha de chuva, bagageiro, capacete, cintas para desatolamento, estribo de metal, pneus lameiros, manilha, quebra mato... Só para citar alguns.
O “trollero” curte o seu carro, estar com amigos, aprimorar seu carro passo a passo, como se fosse um grande LEGO para adultos. Alguns até participam de rally (Copa Troller). Por isso tudo não espere encontrar um Troller puxando arado ou carregando uma carreta com sementes e fertilizantes como o velho Jeep. Também por isso o “trollero” se diferencia do “jipeiro” e não gosta de ser confundido com eles. Outro fator é o preço do carro. Nessa nova versão, remodelada e reprojetada (motor, estrutura, suspensão, interior, dimensões, conforto, acessórios, tecnologia) o preço do carro é de R$ 110.990,00.
O test-drive (urbano
e rodoviário)
O percurso de aproximadamente 100 Km foi bastante variado. Estrada, cidade e trilha. Embora a vocação natural do Troller seja andar por terrenos acidentados ele foi construído de forma a ter um comportamento muito dócil no asfalto. Ao assumir o volante não tive no início a sensação de que estava em um carro capaz de vencer rampas íngremes andar em todo tipo de terreno, como minha história de “jipeiro” me fazia lembrar. Os confortos a bordo não passam despercebidos. Computador de bordo, ar condicionado dual zone, vidros elétricos, direção assistida... Em nada lembra o velho jipe que me fora tão íntimo nos meus primeiros dias dirigindo automóveis. É sem dúvida um carro que tem dupla personalidade. E ambas são fortes e propícias para respectivas emoções.
O percurso de aproximadamente 100 Km foi bastante variado. Estrada, cidade e trilha. Embora a vocação natural do Troller seja andar por terrenos acidentados ele foi construído de forma a ter um comportamento muito dócil no asfalto. Ao assumir o volante não tive no início a sensação de que estava em um carro capaz de vencer rampas íngremes andar em todo tipo de terreno, como minha história de “jipeiro” me fazia lembrar. Os confortos a bordo não passam despercebidos. Computador de bordo, ar condicionado dual zone, vidros elétricos, direção assistida... Em nada lembra o velho jipe que me fora tão íntimo nos meus primeiros dias dirigindo automóveis. É sem dúvida um carro que tem dupla personalidade. E ambas são fortes e propícias para respectivas emoções.
Seu câmbio de 6 marchas permite uma condução muito tranquila nas estradas e ruas da cidade. Por falta de hábito tive alguma dificuldade em achar algumas marchas, principalmente a 6ª e a ré. Mas não é um grau de imprecisão que comprometa.
Ao acelerá-lo nas estradas, por saber que se tratava de um belo motor diesel, com alto torque em baixas rotações e que eu “cavalgava” 200 cavalos, imaginei que a reposta do motor fosse um pouco mais vigorosa. Ele de fato acelera muito bem, mas não posso deixar de citar que naquele momento o Troller levava perto de 2500 Kg. Eram cerca de 2150 Kg do próprio carro somados a mais 320 Kg de 4 adultos (não pequenos).
Sobre o trecho rodoviário e urbano não há muito mais o que falar. O nível de ruído baixo chamou minha atenção, algo que surpreendeu, pois esperava (e até aceitaria um pouco mais pelo tipo de carro). O T4 proporciona ao seu motorista as facilidades e confortos de um carro “comum”, guardando alguma similaridade com os SUVs que existem. Apenas com uma personalidade mais fora de estrada real (já que há muitos carros no mercado que tentam passar uma imagem de fora de estrada apenas no visual).
Apenas faço um último comentário sobre este momento urbano/estrada do test-drive. Como éramos 3 (depois 4) pessoas no carro eu ocupei algumas vezes o banco traseiro do Troller. É um espaço pequeno, é fato. Mas até que duas pessoas adultas podem se encontrar razoavelmente confortáveis ali, mesmo que tenham que se acomodar meio de lado. Antes de ocupar este espaço parecia menos adequado do que se revelou. Afinal a proposta de andar fora de estrada não pressupõe fazê-lo com 3 ou 4 ocupantes. Fica a sugestão para que seja melhorado um pouco mais o acesso aos bancos traseiros, apertado e difícil. Eu com 1.77m tive que me espremer para chegar ali e fazer mais de uma tentativa para conseguir entrar. Eu concordo que não tenho um perfil de esguio jogador de tênis (pelo contrário, sobram alguns quilos aqui e ali), mas exigiu alguma força para eu chegar ao banco traseiro.
O test-drive nas trilhas arenosas
O último trecho previsto trazia uma incursão em terreno fora de estrada. Meus companheiros de viagem optaram por permanecer no hotel e por isso fiz sozinho este trecho. Descobri que fazer navegação e dirigir mesmo tempo (ainda mais um carro que neste terreno desperta interessantes emoções) não funciona. Eu me perdi da trilha proposta após 2 ou 3 minutos. Fazer o quê? Segui em frente e explorei por mim mesmo pequenas estradas, trilhas, areia e até duna!! Eu não iria me perder, estava perto do hotel, assim segui meu instinto e bom senso pelo caminho. Claro que com cuidado, pois não iria expor o carro a situações radicais além do que ele foi projetado.
Foi neste momento que senti a verdadeira força do motor. Eu senti que as duas primeiras marchas (as mais curtas) têm uma força extraordinária e forte resposta ao acelerador. Isso em uma estrada de terra recoberta com muita areia trazida pelo vento das dunas próximas.
Os pneus que vêm com o carro são para uso “geral”, ou seja, 50% asfalto e 50% estrada. Mas mesmo assim, com certa dose de cautela eu me aventurei pelas estradas não usuais. Confesso que desafiei o Troller algumas vezes. Sabia que ele seria capaz de transpor trechos com muita areia ou terra, mas de propósito eu parei o carro em pontos que com certeza um carro “comum” não sairia de lá, ficaria atolado. Começavam aí meus momentos de pura provocação e emoção.
E nesta hora aconteceu o que eu estava esperando, fiquei atolado no areal. A grande força aplicada nas rodas traseiras não me movia um centímetro sequer para a frente. Nessa hora sabia o que fazer. Girei o controle que fica ao lado da alavanca de marchas e coloquei na posição 4x4. Tentei novamente. Nem parecia que tinha areia ali, saí de forma imediata de minha armadilha branca e fina. Não apenas a tração das 4 rodas foi importante nessa hora. O modo 4x4 do T4 tem um sistema inteligente de distribuição de torque privilegiando as rodas que têm melhor ou alguma aderência.
Dei meia volta, invadindo uma relva (parecia um pasto, mas não era) e retornei para o mesmo lugar. De novo no modo 4x2 certifiquei-me que estava de novo aprisionado em meu proposital cativeiro. Mas dessa vez testei o modo 4x4 low, ou seja, o 4x4 com redução ainda maior na caixa de câmbio elevando ainda mais a força motriz. Por ser a primeira vez que usei este modo eu levei um susto. Foi como um coice de mula nas costas tal a força e desenvoltura que percebi para sair da imobilidade na areia. Aprendi que o modo 4x4 low exige delicadeza e sutileza na embreagem. Lição assimilada!
Após explorar esta estrada sinuosa e delicada por mais algum tempo eu me atrevi a me aproximar de algumas dunas que havia ali. Eu vira outro Troller se dirigindo para lá. Isso me deixou mais animado e seguro. Não poderia ser muito atrevido nas dunas. Andar neste terreno extremo exige pneus de tipo mais apropriado. Mas mesmo sem este pneu os entendidos do assunto o fazem com “pneu baixo”, ou seja, retirando boa parte da pressão dos pneus deixando-os mais adaptáveis ao terreno.
Comecei com 4x2, ao perceber que iria atolar mudei para 4x4 (o Troller permite que 4x4 seja ligado mesmo em movimente até 120 Km/h). A sensação foi maravilhosa! Como descrever? O que mais se aproxima é “eu estou no controle e nada vai me deter”. Isso chega perto do que eu senti. Parar na duna era o convite para usar 4x4 reduzida, dessa vez muito mais dócil e sutil na embreagem... Neste meio tempo o outro Troller se aventurou muito para cima e ficou (aparentemente) definitivamente preso em uma rampa de grande inclinação de areia. Parei o carro, pensei em ajudá-lo de alguma forma. Não foi necessário. Se o 4x4 low não conseguiu movê-lo para a frente naquele areal todo, seu condutor, esperto e experiente que era, engatou marcha a ré com reduzida e escapou da areia. A foto abaixo mostra este momento logo após sua libertação.
figura 11 – nas dunas , ao fundo o outro Troller recém desatolado via marcha a ré reduzida (veja marca na areia)
E por mais alguns minutos eu me diverti, mesmo sem ser “trollero”, sentindo aquela emoção forte de conduzir um carro por terrenos pouco comuns. É uma experiência única na qual a emoção vem não da velocidade e sim da sutil condução, que exige técnica e delicadeza por locais que poucas pessoas passariam. Mais alguns minutos estava estacionando o carro no pátio do hotel e encerrando minha experiência.
Conclusão
O novo Troller é um veículo de nicho evidentemente. Tem um público fiel com 48% de seus compradores já possuidores de modelo anterior do carro. Tem capacidade e conforto para uso urbano por conta da tecnologia embarcada, itens de conforto e sofisticação. Mas o que seu dono quer mesmo é desafiar-se por caminhos, trilhas, lamaçais, dunas, areia, lama, riachos... Quer também desfrutar do prazer da companhia de pessoas de mesmos gostos, comparar seu carro com o de amigos, acrescentar pouco a pouco itens e acessórios que o permita ir cada vez mais longe com seu Troller.
Não é um carro barato. Tem preço similar ao de um Ford Fusion. Mas qualquer comparação com carros que não sejam off-road não faz sentido algum. São proposta diferentes, objetivos diferentes e principalmente emoções diferentes. A reformulação da fábrica e processos produtivos melhorou a capacidade de produzi-lo em maior escala, mas principalmente com maior uniformidade e controle de qualidade.
De minha própria experiência ressalto como pontos de possível melhoria algum avanço na precisão do câmbio (embora já melhor que a versão anterior) e melhor acesso ao banco traseiro. Em algum momento foi questionada a falta de air-bag, não obrigatório neste tipo de veículo utilitário fora de estrada. Eu entendo que a questão da legislação norteou essa decisão. Mas também penso no perigo de um air-bag ser inflado sem necessidade em algum impacto seco e brusco no uso off-road. Não seria boa ideia. Assim como última sugestão, se possível, provê-lo de um sistema de proteção tipo air-bag, porém calibrado para uso off-road. Será possível?
Por fim trago comigo dessa experiência a forte emoção e sensação de “estar sempre no controle” e vivenciar fortes emoções mesmo entre 5 Km/h e 10 Km/h ao buscar o caminho certo, a aderência certa, a tração certa... São sensações que remetem minhas lembranças aos pastos e riachos da fazenda que foi da família décadas atrás, de meu aprendizado de direção em terrenos acidentados, mas que nos dias de hoje podem ser desfrutados em um Troller com segurança e grande conforto.
Muito boa sua experiência ! O texto ficou muito bom.... Li com curiosidade até o fim...
ResponderExcluirFaltou explorar melhor as experiências na fazenda .... e no Fusca .....
Ou serão impublicáveis ?
Celso obrigado pelas palavras!! seja no Jeep ou no Fusca as experiências off-road foram intensas!! Publicáveis?? Certamente!! Abs
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