quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Blackberry 10, será a reinvenção da RIM?

Muito tem sido falado sobre o destino de várias empresas da área de tecnologia. Uma dessas é a RIM, fabricante do tradicional smartphone Blackberry. Procuro ouvir ambos os lados, tirar minhas conclusões e dividir minha opinião com os leitores. Hoje tive a oportunidade de ouvir um pouco mais o lado da história contada pela RIM, pois teve lugar em São Paulo um evento para desenvolvedores. No “Blackberry 10 Jam” as características deste novo produto foram apresentadas. Parte desta história já sabia de outras oportunidades, mas hoje eles “abriram o jogo” completamente.

Curiosamente o evento aconteceu em um grande conjunto de cinemas em São Paulo. Isso me sugeriu que parte das apresentações seria via teleconferência. Na verdade foi tudo em “3D” e ao vivo!! Eu explico. Um grupo de altos executivos da RIM veio para São Paulo e conduziram este evento visando mostrar para os desenvolvedores como criar ou migrar aplicativos para o sistema operacional BB10 que será lançado no começo do ano que vem. Nada de teleconferência.
 

Blackberry 10 – “Dev Alpha” sendo mostrado no Blackberry World

Aproveitaram também para contestar alguns mitos que vem sendo divulgados pelo mercado. O projeto do BB10 é grandioso e extremamente importante para a empresa. Fala-se que a RIM vem experimentado dificuldades e que inclusive abriria mão de sua divisão de hardware, delegando para terceiros esta função, concentrando-se apenas no software e serviços. Isso não seria de todo ruim uma vez que a grande fabricante de processadores AMD fez isso anos atrás e hoje experimenta situação exuberante quando comparada com o momento de sua maior dificuldade na qual se desfez de suas fábricas.

Mas há dois fatos, e contra fatos não há argumentos, que refutam esta onda de nuvens negras supostamente pairando sobre a RIM. Em primeiro lugar ouvi de um dos executivos da empresa que eles têm neste momento dois bilhões de dólares em caixa e estão usando parte deste recurso no projeto BB10. Não tenho porque duvidar da informação uma vez que empresas com capital aberto prestam contas rotineiramente ao mercado. Dois bilhões de dólares no bolso não parece pouco para mim, muito pelo contrário. Outro fato relevante é a informação sobre o sucesso da venda do Playbook, sendo este dispositivo o que traz maior receita para a empresa nos últimos trimestres. Se este dispositivo traz tanta receita para a RIM porque abrir mão de sua fabricação? Isso conflita com a informação do fechamento de suas próprias fábricas.

Mas algo precisa ser pontuado. O (nada) “ingênuo” Playbook não é apenas um Tablet para a RIM. Ele é um dispositivo estratégico para empresa uma vez que ao contrário de todos os seus dispositivos (smartphones) anteriores, roda o sistema operacional QNX (empresa comprada pela RIM tempos atrás para absorver esta tecnologia). O Blackberry 10 também se fundamenta no QNX, rompendo com todo o legado de dispositivos da empresa. De certa forma o Playbook além de um Tablet, que tem sido bem aceito pelo mercado, é uma antecipação do BB10 pelo menos no que diz respeito ao ambiente de desenvolvimento de aplicativos. Tudo que for criado para o Playbook será automaticamente compatível com o BB10. Eu posso até especular que a RIM por causa disso tudo pode ter deslocado o preço de venda do Playbook para baixo, visando aumentar sua penetração no mercado já pensando na criação desta base instalada de aplicativos que já estão sendo criados e ajudar muito a chegada do BB10. Especulação minha!

Mas o BB10 não é apenas um Playbook em outro formato! É mais do que isso. A começar pela padronização de resolução dos dispositivos que serão apenas duas, 720x720 e 1280x720. Isso é bem diferente dos smartphones atuais da empresa que por diversos motivos têm muitos tamanhos de tela e resoluções distintas. Esta padronização é de imensa ajuda para os desenvolvedores que terão facilidade de adaptar seus aplicativos em apenas dois formatos. Aliás, imagino a qualidade de imagem que esta resolução proporcionará aos dispositivos.

O BB10 também consiste de vários avanços e inovações na interface e no sistema operacional. Só para citar algumas:

- Interface “cascade” que permite múltiplas visualizações em “camadas” dos aplicativos
- multitarefa real, vários aplicativos podem de fato ser executados simultaneamente
- teclado inteligente que vai aprendendo e criando atalhos para palavras mais usadas
- suporte a HTML5 que de imediato já habilita muitas aplicações que já existem hoje
- runtime que permite aplicativos Android serem rapidamente migrados para o BB10
- diversas funções dependentes de contexto trazendo mais produtividade

Um dos recursos mostrados arrancou exclamações do público. Você tira uma foto e muitas vezes alguém sai, por exemplo, de olhos fechados. O BB10 pode tirar uma sequência de fotos e se alguém está de olhos fechados ou com uma expressão não tão agradável, você seleciona o rosto daquela pessoa e alternativas de expressão são mostradas e pode ser escolhida e substituída na imagem. Incrível, pois ninguém fica absolutamente parado em uma foto e adaptar outros momentos de expressão de uma pessoa exige um sofisticado processo de integração de imagens!! Mas falando de uma forma mais prática e simples, não haverá mais foto com gente de boca aberta, fazendo careta ou com olhos fechados.


Blackberry 10 – “Dev Alpha” 

Perguntei para um dos executivos da RIM por quanto tempo os dispositivos atuais conviveriam com os novos BB10. Isso ainda não foi definido (ou eles não puderam divulgar). É uma situação por um lado óbvia e por outro lado bem delicada. Há bons dispositivos Blackberry no mercado hoje, mas que terão sua vida encerrada. Minha opinião (não é informação da RIM) é que eles vão respeitar o ciclo de vida natural dos dispositivos. Se um modelo foi lançado em 2010, provavelmente não será mais vendido em 2013 (alguns modelos nem mesmo em 2012). Assim conforme os velhos modelos (atuais) forem exaurindo seu ciclo de vida naturalmente os BB10 assumirão seu lugar.

Do ponto de vista da comunidade de desenvolvedores seria bom que a mudança fosse disruptiva e abrupta, pois de imediato ampliaria a base instalada de aparelhos que podem consumir esta nova geração de aplicativos que começaram a ser criados com Playbooks e primeiros BB10 que chegarem ao mercado. Outro motivo é que o ambiente de desenvolvimento para BB10 é mais produtivo e mais simples, a começar pelo desenvolvimento em HTML5, bem como as aplicações usando as APIs do QNX e Cascade. Podem ser usados vários frameworks de desenvolvimento, incluindo para Microsoft Visual Studio (ainda em Beta que será disponibilizado brevemente).

As ações de apoio aos desenvolvedores são grandes. Vários outros “Blackbery 10 Jam” acontecerão na América Latina pelo menos mais três eventos no Brasil. Uma das ações que achei de grande impacto (e também criativa) é uma competição para criar um aplicativo durante o dia do evento, com apoio de pessoas da RIM e no final do evento cada desenvolvedor tem 3 minutos para apresentar seu trabalho. Os escolhidos ganham um prêmio incentivo em dinheiro e já tem sua aplicação publicada na BlackBerry App World.

Conversei um pouco mais com Larry McDonough, executivo responsável pela área de monetização dos aplicativos. Ele contou um pouco mais como funciona a parceria com a RIM e deu várias dicas de como alavancar o trabalho dos desenvolvedores, algumas óbvias, mas outras muito interessante e criativas. Uma das informações repassadas pelo Larry foi que segundo fonte independente os aplicativos para Blackberry, mesmo tendo volume menor geram mais faturamento para os desenvolvedores do que aplicativos para IOS (iPhone) e Android. Perguntei para ele o motivo disso. Sua resposta foi que no lado do Android há muito aplicativo, mas a grande maioria gratuita e no lado do IOS o que acontece é que comparado com o Blackberry o consumidor, pelo seu perfil, ele é mais propenso a pagar pelos aplicativos do que os outros consumidores. Sejam estas as explicações ou não, saber de forma objetiva que os desenvolvedores para Blackberry têm maior receita do que as outras plataformas, dito por instituição independente foi surpreendente.

Conclusão

O título deste texto é uma pergunta, “Blackberry 10, será a reinvenção da RIM?”, mas eu acho que neste mercado todos precisam se reinventar todos os dias. Ao contrário de décadas atrás, as mudanças são muito rápidas. Contavam meus pais que nas décadas de 50 e 60 do século passado havia o leiteiro que entregava toda madrugada uma garrafa de vidro com o precioso leite vindo das fazendas de porta em porta. Com a melhoria dos sistemas de refrigeração, melhor logística de entrega e principalmente com a criação da embalagem “longa vida” fez sumir a figura do leiteiro de porta em porta.

Atualmente todos os fabricantes, inclusive a RIM devem estar em constante movimento para não terem seus produtos transformados em obsoletos de uma hora para outra. Este movimento do Blackberry 10, sistema QNX, mudança da plataforma de desenvolvimento é algo essencial para a sobrevivência da empresa. Apple, Motorola, Samsung, Huawei, ZTE, LG, quaisquer que sejam os fabricantes de smartphones, todos têm como a RIM a mesma possibilidade de sucesso ou fracasso nos próximos meses. Dependerá das ações da cada uma delas. A Apple, por exemplo, tem o famoso iPhone, mas aparentemente a próxima versão será uma evolução até modesta enquanto a RIM aposta alto com a “revolução do BB10”.

Desenvolvedores ao redor do mundo receberam um Blackberry 10 “Dev Alpha” para testarem suas aplicações. Este dispositivo, que tem sido mostrado por aí em inúmeros sites e blogs, inclusive por mim mesmo neste texto, não é o produto final. Trata-se de um simulacro do dispositivo definitivo apenas com o propósito de oferecer aos desenvolvedores um ambiente mais real para aferir a experiência com seus aplicativos. É quase que um “mini Playbook”. Assim a RIM ainda não mostrou ao mundo a forma de seu novo aparelho e sim as modificações conceituais e de interface.

A Apple com o refinamento visual e também funcional provou ao mundo que, como dizia o poeta Vinícius de Moraes, talvez não tão conhecido das novas gerações “que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental” e é em minha opinião o que falta para o Blackberry 10 vir a ser de fato uma plataforma vencedora. Inovações na funcionalidade, plataforma de desenvolvimento, interface, novos aplicativos estão à mostra. É uma aposta alta, uma reinvenção do produto e da própria empresa. Isso tudo aliado a um produto visualmente atraente e com usabilidade refinada tem tudo para não transformar a RIM em “empresa que entrega leite de porta em porta” como andaram dizendo dela, risco que todos os integrantes deste mercado sofrem se não se reinventarem constantemente também.

6 comentários:

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    1. Parece bastante prometedor, pelo que eu pude ver. Uma interface moderna, fluida e avançada capaz de competir com a concorrência. Estou ansioso para ver os próximos smatphone BlackBerry com o BB10.

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    2. Caro Anônimo, legal que gostou!!!

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    3. Caro Saul, eu estou para testar um modelo referência do BB10. Estou animado com o que pode vir por aí!!

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  2. Pelo visto, ira inovar completamente...

    Espero que seja de uma forma positiva, confesso que fiquei curioso para testá-lo...

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    1. E você viu Felipe, vaio ser lançado no final de janeiro próximo. Agora é oficial!!

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