quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O versátil e poderoso Snapdragon 820 - o novo motor do seu smartphone

Sempre desconsiderei comparações entre o universo dos computadores (MACs ou PCs) e smartphones. São mundos distintos, mas, verdade seja dita, há uma zona de uso comum e até substituição para algumas funções. Mas jamais um pode ser totalmente usado no lugar do outro. Isso acontece também na engenharia de cada um deles. Por motivos óbvios o grau de integração e miniaturização das plataformas para smartphones é muito mais intensa.

Está para chegar ao mercado uma leva de dispositivos que usam o Snapdragon 820, uma solução muito elaborada e sofisticada feita pela tradicional empresa Qualcomm. Sendo breve, se você não sabe quem é Qualcomm, eu te digo apenas uma coisa. É a empresa que detém as patentes da tecnologia 3G e 4G entre centenas de outras. Fantástico.


No universo da computação móvel a busca desenfreada é sempre fazer muito mais por muito menos, ou seja, mais funcionalidades e velocidade consumindo cada vez menos energia. Essa é para mim a grande beleza de toda a indústria de tecnologia. Neste contexto e com essa ideia em mente a Qualcomm desenvolveu sua plataforma Smartdragon 820, evolução de uma já competente família.

Smartdragon 820

O caminho para trazer melhor desempenho e eficiência energética para o mundo da mobilidade passa obrigatoriamente por concentrar muitas funcionalidade em um único elemento, muito bem arquitetado. Este é o conceito do SoC, ou seja, “system on a chip”. A Qualcomm vem aprimorando sua família de soluções para dispositivos móveis e com a chegada do Snapdragon 820 pretende surpreender o mercado com destacados resultados.

DSP, ISP, GPU, X12, LTE, 802.11ad são apenas algumas siglas que os iniciados no assunto de SoC entendem, mas que resumem apenas algumas das tecnologias embarcadas no 820. A ideia de aproximar todos os subsistemas que compõem uma plataforma para dispositivos móveis, construindo todos eles dentro do mesmo chip, tem como grande vantagem a proximidade. Não falo de algumas frações de milímetros. Soluções mais antigas tinham cada um destes sistemas residindo em diferentes chips, cada um deles com uma interface, conexões, etc. Quando está tudo integrado de imediato há grande economia de energia e cada um dos elementos podem cooperar com o sistema final de maneira mais intensa (e mais rápida).


figura 01 – modelo da arquitetura do Snapdragon 820


Isso é análogo a uma equipe de trabalho em uma empresa que cada grupo fica em uma sala diferente, sendo necessário se deslocar para outros ambientes para interagir e solicitar execução de tarefas. Se todos estão na mesma sala a comunicação é direta e imediata. Desde que não falem todos ao mesmo tempo (função essa que um coordenador ou bom gerenciador resolve). De uma forma simples, isso é o SoC Snapdragon 820, a evolução de uma família que vem sendo aprimorada ao longo do tempo, geração a geração.

Os processadores (SoC) da Qualcomm ganharam importante espaço entre os dispositivos móveis. Dados indicam que sua participação no mercado é acima de 40%, um número muito expressivo. Mas o mercado é dinâmico e um grande fabricante, Samsung, recentemente optou por usar um processador próprio em seu lançamento da família S6. A Qualcomm com o 820 mostra para o mercado que trouxe um salto substancial de tecnologia e que dispositivos que visam o mercado high end poderão com sua adoção o conquistar excelência em qualidade que se espera destes produtos.

Segundo a Qualcomm há cerca de 60 modelos de dispositivos já em fase final de projeto que usarão a plataforma 820. Muito possivelmente estes produtos serão apresentados em primeira mão na CES 2016 em Las Vegas e chegarão às prateleiras para o consumidores ao longo do primeiro quadrimestre de 2016.

Não quero ser detalhista ou técnico demais, mas algumas das características dessa família merecem destaque. A começar pela arquitetura escolhida. O processador tem 4 núcleos. Muitos processadores do mercado têm 8 e isso pode causar alguma confusão. Em princípio quanto mais “motores” tem o smartphone mais rápido ele pode ser. Desde que a frequência de operação seja compatível e que o gerenciamento destes núcleos todos seja primoroso. A Qualcomm optou por 4 núcleos nesse projeto que rodam em alta frequência, 2.2 Ghz e a “orquestração” de tarefas entre os núcleos é muito otimizada. Dessa forma se obtém o dobro do desempenho quando comparado com a geração anterior (810) e ao mesmo tempo consumindo 30% menos de energia. São dados ambiciosos que precisam ser confirmados na prática, mas é fantástico.

Há evolução em várias outras áreas. Por exemplo, além do WiFi padrão “ac” (que é retro compatível com todos os outros padrões b, g, n e a), operando em 2.4 Ghz e 5.0 Ghz, o 820 traz o novíssimo padrão “ad”, que opera a 60 Mhz, prometendo velocidades nominais maiores que 3 Gbps e mais que suficiente para receber transmissão de vídeo 4K (3840 x 2160 pixels – 8 megapixel) com sobra de capacidade.

Enquanto 2020 não chega, e com ele o novo padrão de comunicação 5G, o LTE (4G) segue sendo aperfeiçoado e o Snapdragon tem a capacidade de trabalhar com agregação de sinal e assim chegar a teóricos 600 Mbps de velocidade de download (33% mais que Snapdragon 810) e 150 Mbps de upload (200% mais que Snapdragon 810). Para isso usa o 4G em mais de uma frequência, que não é ainda o caso do Brasil (teremos mais frequências disponíveis em 2017 com o final das transmissões de TV analógica). De toda forma notável evolução.

O Snapdragon 820 integra no seu hardware um subsistema de segurança, que auxiliado por uma simples camada de software tem a capacidade de realizar análises comportamentais de aplicativos ou módulos de software de forma a identificar ações consideradas suspeitas e assim proteger o dispositivo principalmente das ameaças “0 day”, ou seja, aquelas que acabaram de ganhar as ruas e não têm ainda “rastro genético” (assinatura da ameaça no software de segurança). Há sistemas que podem fazer isso usando recursos na nuvem, mas são mais demoradas e exigem conexão de dados para uma análise.


figura 02 – visão conceitual do sistema de proteção do Snapdragon 820


Confesso que eu não sabia que seria possível embutir funcionalidades usadas por câmeras, tratamento de imagens, captura em situação de baixa luminosidade, alta resolução, etc. dentro do processador. É o que o módulo ISP (Image Signal Processing) faz. E o ISP do 820 traz evolução grande neste sentido visando melhor captura de fotos e vídeos em todas as situações. Estou muito curioso em relação a isso, pois tirar fotos com smartphone em ambiente externo e bem iluminado, quase todos são bem competentes, mas em situação de baixa luminosidade, é tarefa que muito poucos fazem bem feito! Vou precisar esperar chegar em minhas mãos um dispositivo que use o Snapdragon 820 (e que tenha também tenha uma boa lente) para dar esta resposta. Mas há grande potencial segundo a evolução da plataforma.

Exemplificando o meu ponto de vista, o módulo DSP (Digital Signal Processor) é responsável pelo processamento avançado das imagens. Segundo a Qualcomm “em situações de baixa luminosidade, o Snapdragon 820 usará o ISP e DSP de forma a adaptar o brilho das áreas da imagem que normalmente ficariam escuras demais. Isso foi projetado para acontecer 3 vezes mais rápido e gastando apenas 10% da energia quando comparado com a geração anterior”. Um exemplo disso pode ser visto na imagem abaixo.


figura 03 – exemplo de tratamento de imagens – ajuste dinâmico de iluminação

Avaliando o desempenho do Snapdragon 820 - benchmarks

Tive a grata oportunidade de testar por duas horas um dispositivo construído usando o Snapdragon 820. Era um modelo de referência da Qualcomm, não um produto final de mercado. Mas isso já foi suficientemente bom  para realizar uma sessão de benchmarks e poder emitir minhas primeiras impressões.

Mas preciso primeiro tecer algumas considerações sobre softwares de benchmark. Por mais que tentem, nunca são capazes de simular perfeitamente um padrão de uso natural do dia a dia. Também porque cada pessoa tem o seu próprio perfil de uso. Sempre chamo a atenção disso quando testo durabilidade e bateria de smartphones. Um benchmark consiste em uma sucessão de medidas de ações isoladas que irão ser compostas por algum critério de ponderação e resultarão em um índice. Isso é bom? É uma boa referência. Mas não é perfeito.

Imagine que um atleta fosse submetido a testes e se descobrisse qual sua capacidade muscular, sua força da perna fosse capaz de levantar 50 quilos de peso. Consegue mover a perna para cima em 0.7 segundos. Consegue voltar a perna para a posição original em 0.5 segundos. Seu passo tem 116 centímetros... Estes dados biomecânicos podem indicar se são comparáveis aos dados de um atleta vencedor. Mas se todas as ações serão executadas com harmonia e precisão, se este atleta poderá desafiar o Usain Bolt, isso nunca poderemos saber com certeza, mesmo que este supere individualmente os valores do jamaicano voador! O teste de conjunto, o uso real, é no fundo o que mais importa. Os testes individuais, mesmo que inteligentemente associados e ponderados podem não nos dar esta certeza. Por isso eu vejo os benchmarks com ressalvas. Mas a despeito disso têm grande valia no sentido de indicar características potencialmente muito desejáveis. Ressalva feita, vamos conhecer alguns dos dados do Snapdragon 820.
  

figura 04 – testes feitos com o modelo referência do Snapdragon
  
O dispositivo que usamos para os testes era um phablet de 7 polegadas no qual havia alguns softwares populares de benchmark instalados como AnTuTu, Geekbench 3, GFXBench, Octane 2.0 e Kraken. Por minha própria conta instalei mais alguns como o CF-Bench, o Vellamo e o 3DMark.

Não existe motivo algum para a Qualcomm divulgar resultados positivos que não sejam a pura expressão da verdade. Mas quis usar outros benchmarks para fazer a contra prova, certificar-me de que o impacto positivo é mesmo do tamanho que vem sendo anunciado.

Comparo os resultados do Snapdragon 820 com outras duas plataformas. Um MediaTek MT6735 (1.30 Ghz 8 núcleos ARM Cortex A53 fabricado em 28 nm) presente em um Lenovo Vibe A7010 e um Snapdragon 615 (até 1.7 GHz 8 núcleos ARM® Cortex A53 fabricado em 28 nm) presente em um Asus Zenfone Selfie. Estas bases de comparação foram estrategicamente escolhidas? Não, apenas eram os smartphones que eu tinha disponíveis no momento do teste. Smartphones com o Snapdragon 615 chegaram ao varejo em meados de 2014 e com o MediaTek MT6735 no começo de 2015. O Snapdragon 820 chegará ao varejo no começo de 2016. Compararei diretamente com o MediaTek, que é mais recente e no final apresentarei os dados completos com as 3 plataformas.

No teste GeekBench 3 obtive o índice 2261 para o teste de apenas UM núcleo e 4975 para todos os núcleos (neste caso 4). No Mediatek MT6735 obtive nos mesmos testes, 610 e 2635. O Snapdragon 820 é respectivamente 270% e 90% mais rápido. Os resultados mostram o 820 intensamente mais veloz.
    

figura 05 – resultados dos testes com o GeekBench 3

Convém citar que estou bastante satisfeito com o desempenho do Lenovo Vibe no dia a dia. E se um smartphone com o 820 pode ser entre 90% e 270% mais veloz, é garantia de sossego no uso de uma ou muitas aplicações ao mesmo tempo. Baixe o GeekBench 3 em seu Android e compare, possivelmente vai obter resultado semelhantes ao meu.

No GFXBench, um teste mais voltado em aferir o desempenho do sistema gráfico (GPU), os dados falam por si. Dividem-se em testes de alto nível e baixo nível. São muitos números, nem vale a pena entrar em detalhes, mas vou me concentrar nos seguintes resultados “Manhattan” e “Texturing”. Comparando os mesmos índices obtidos no Lenovo Vibe temos diferenças gigantescas a favor do 820 de 599% e 799% (127 x 887 e 856 x 7702)!!!!!
    

figura 06 – resultados dos testes com o GFXbench no 820
   
O software AnTuTu é uma das referências do mercado. Mas os índices nele obtidos não podem ser comparados diretamente, pois a versão usada é nova, ainda não disponível (beta) e como as bases de análise foram alteradas, não adianta confrontar com teste feito em outro smartphone com a versão atual.

Já no teste com o Vellamo percebi fatos bem interessantes. Ele afere 3 índices e áreas distintas, eficiência Multicore, Metal (teste de apenas um núcleo) e Browser (no caso Chrome) que indica eficiência no uso de navegação e renderização de páginas. O 820 foi respectivamente 127%, 230% e 115% mais rápido.


figura 07 – resultados dos testes com o Vellamo comparados com Lenovo Vibe (direita)
      
 
O Vellamo dá uma informação a mais muito interessante, uma visão comparativa com outros smartphones de mercado, em cada uma das áreas. Vejam as telas abaixo.


figura 08 – resultados dos testes com o Vellamo comparados com o  820 (clique para ampliar)

Apenas me fixando em um modelo, o ótimo Samsung Galaxy S6 está presente nos 3 testes entre os mais rápidos (mais rápido em duas categorias). O nosso modelo de referência contendo o Snapdragon 820 foi nas categorias Multicore, Metal e Browser respectivamente 22%, 39% e 67% mais rápido!!! O S6 é um dos smartphones de referência do mercado por sua agilidade, performance e também qualidade da sua câmera. Vale ressaltar que cada fabricante ainda poderá fazer as suas próprias otimizações e obter ainda melhores resultados.

Por fim, a Qualcomm nos disse que um browser ainda mais aperfeiçoado que o Chrome foi desenvolvido para ser usado nos smartphones com o 820. Fui conferir este outro browser no teste do Vellamo, vejam na imagem abaixo.


figura 09 – comparação de vários browsers rodando no dispositivo com o 820
    
Podemos ver que o browser com otimizações (índice 6676) é quase 13% mais rápido que o Chrome (5952) e 27% mais rápido que o browser nativo do Android. Todos rodando no mesmo dispositivo com o Smartdragon 820. Isso mostra como algumas otimizações podem fazer diferença no dia a dia.

Segue abaixo a visão comparativa dos testes realizados. Na segunda coluna da tabela existe o valor observado no teste e na última coluna um comparativo “base 100” sendo que o valor 100 foi atribuído ao Snapdragon 615.


figura 10 – testes feitos com o 820 comparados com outras plataformas


Conclusão

Embora relativamente injusta a comparação direta entre estas 3 plataformas, devido às idades de cada uma delas, o 820 está nascendo e as outras têm presença no varejo há 8 e 16 meses, faz sentido para mim. Estes meses de diferença são responsáveis por um incremento entre 3 e quase 6 vezes em alguns testes. Esta evolução é fantástica.

Ressalvas que já fiz ao uso de benchmarks, explicado alguns parágrafos acima, estou confiante em afirmar que o salto de eficiência e desempenho do 820 é mesmo de grande intensidade. Retomando a minha metáfora do “atleta”, as medidas de força e tempo dos “movimentos das pernas” me fazem pensar que Usain Bolt que se cuide! Quando chegarem às ruas os dispositivos com o Snapdragon 820 a “corrida de 100 metros” poderá ser de fato realizada e todas as virtudes pontuais do 820 poderão ser confirmadas!

Convém relembrar que as inovações não são apenas quantitativas (desempenho puro), mas também qualitativas. Estão também presentes recursos novos, suporte a padrões de comunicação mais avançados, maior eficiência energética (economia de energia), etc.

Citei no começo da sessão de benchmark deste texto que o smartphone que estou testando neste momento, um Lenovo Vibe A7010, que usa o Mediateck MT6753 está 100% adequado, bom desempenho, tarefas executadas com fluência, etc. Mas destaco que um carro com motor 1.0 também me leva por toda a cidade, posso viajar para o Rio de Janeiro com ele. Vou chegar lá sem o menor problema. Mas se eu transportar 5 pessoas, estiver em uma íngreme subida ou se precisar acelerar vigorosamente para realizar uma ultrapassagem, vou ficar sem resposta!! Por isso a sensação de “satisfação momentânea” é perigosa.  Vai acontecer um dia de você precisar de uma boa dose de potência extra (aplicativos mais pesados, jogos, muitos apps abertos ao mesmo tempo, etc.) que apenas uma plataforma robusta e evoluída como, por exemplo, o Snapdragon 820, poderá atender. Estou ansioso para correr os 100 metros (e quem sabe até uma maratona) com um smartphone contendo o 820!!